Terrifier 3 (2024) chega aos cinemas com barulho. Segue quebrando recordes de bilheteria, desbancando o INJUSTIÇADO e rejeitado Coringa: Delírio a Dois (2024) e criando expectativa nos que já estavam com saudades do palhaço assassino criado por Damien Leone.
No longa, seguimos acompanhando os personagens que conhecemos em Terrifier 2 (2022). Após sobreviver ao massacre de Halloween do palhaço Art, Sienna e seu irmão lutam para reconstruir suas vidas despedaçadas. No entanto, justo quando pensam que estão seguros, Art retorna, determinado a transformar sua alegria natalina em um pesadelo.
Nos momentos iniciais, o filme se perde em uma longa contextualização. A cena de abertura é chocante e divertida, envolve o Natal e crianças, já dizendo que o terceiro capítulo da franquia pode entregar de tudo, mesmo que esse tudo já esteja dentro de muito ao que já fomos expostos nos dois anteriores.
Depois dessa cena, apesar de voltarmos para o ponto exato em que o segundo filme nos deixou, há uma longa exposição de como Art e Victoria Hayes (sua já conhecida vítima e agora nova parceira) se isolaram e retornam após cinco anos dos últimos acontecimentos.
Essa parceria, aliás, é um dos pontos fracos do longa. Enquanto Art não fala nada e tem sua boa parte de seus carisma vindo de suas reações e risadas silenciosas do sofrimento de suas vítimas, Victoria fala de forma excessiva, explicando várias vezes suas motivações e desejos macabros para a protagonista, especialmente na cena do conflito final.
A verdade é que Terrifier 3 não supera seu anterior (não que a narrativa dos filmes seja necessariamente marcante), mas se segura bem nas cenas de extrema de violência e no carisma de seu serial killer protagonista. É praticamente o mesmo filme que o anterior, mas com uma roupagem de Natal e um mergulho não muito convincente no personagem e sua mitologia. Há um esforço para entendermos de onde vem e como vencer esse mal. Cá entre nós, esse jamais foi o forte da franquia e, aqui, parece ser usado mais como um apoio para que personagens já conhecidos sejam mantidos e na criação de um gancho para o já garantido próximo capítulo da história.
A maioria dos novos personagens é apresentado para morrer, o que não é incomum no terror. O núcleo da universidade em que Jonathan, personagem de Elliot Fullam, é introduzido, porém, não se conecta com a trama central, funcionando como um palco para as novas vítimas e menos como um grande motivador da história.
Sienna, interpretada pela carismática e muito competente Lauren LaVera (que é a cara da Manu Gavassi, nao é?), é a personagem responsável pela trama principal. O papel de “escolhida” para derrotar o mal é explorado em fracos flashbacks de convivência com seu pai na infância, em um alongamento da história, especialmente em sua primeira metade, que não agrada quem está mais animado para ver Art dando seu show de violência.
Art é o coração. E é por isso que a última hora do filme ganha um pouco mais de força. Com o humor como forte aliado, adoro o fato do personagem ser genuinamente apaixonado pela figura do Papai Noel, o que é revelado numa boa cena dentro de um bar. E o exagero de sangue volta ao palco com cenas que tentam ser marcantes, mas que não chegam aos pés da famigerada cena no quarto do longa anterior (cês lembram dele voltando com o sal na mão? cinema!). Visualmente melhor resolvido, a matança aqui apela para partes do corpo congeladas, ratos literalmente enfiados goela abaixo e muitos membros desconectados dos corpos. Há também uma reconstrução de uma morte bastante polêmica e criticada do primeiro filme, o momento em que Art serra uma mulher no meio, começando por entre suas pernas. Dessa vez, um homem é mutilado de forma parecida numa tentativa clara de dizer que as críticas foram escutadas e que agora Art é cruel com homens também, com um foco bastante explícito na genitália da vítima para que não haja dúvidas de que o palhaço não é tão misógino assim (spoiler: ele é).
Enquanto uma parte minha tem uma forte curiosidade de ver o que Damien Leone pode fazer com histórias diferentes, outra prefere que ele se mantenha com Terrifier, já que a criatividade não parece caminhar para muitos lugares distintos.
Vítima do próprio crescimento, a franquia parece não saber muito que rumo tomar. Pensando em mortes elaboradas, Premonição se saiu melhor em seu legado, talvez por nao querer conectar suas histórias contadas em uma mitologia complexa, que é um dos principais problemas aqui. Apesar da duração menor que a do anterior, o tempo parece passar bem mais devagar em Terrifier 3.

E uma última curiosidade: pesquisando sobre o filme, descobri que o ator Elliott Fullam tem um projeto musical meio indie bem agradável, ou pelo menos melhor do que o trabalho que entrega especialmente nesse terceiro longa (não que isso fosse muito difícil). Confere aí: