Julie Permanece em Silêncio (2024)

48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Vencedor do prêmio SACD da Semana da Crítica do Festival de Cannes

Julie é a principal jogadora de uma academia de tênis profissional. Quando o seu treinador se torna alvo de uma investigação e é repentinamente suspenso após o suicídio de outra atleta, todos do clube são incentivados a testemunhar. Mas Julie decide ficar em silêncio. O longa dirigido por Leonardo van Dijl e co-escrito por ele ao lado de Ruth Becquart, Julie Permanece em Silêncio (Julie zwijgt / Julie Keeps Quiet) aprofunda sua protagonista enquanto não nos deixa mergulhar completamente em sua mente. Cabe a nós, como audiência, julgar o comportamento dessa reflexiva protagonista?

A rotina da protagonista é acompanhada com certa frieza, o que ajuda no distanciamento, mas também faz com que o ritmo do filme não mude muito. Também é parte da proposta, mas pode deixar a impressão de que está acontecendo menos coisa do que está sendo vista.

A solidão de Julie é reforçada por escolhas espertas da direção, por mais que possam soar óbvias. Tudo é muito silencioso e as sombras estão muito presentes, mas Julie está sempre em foco, literalmente. Em alguns momentos, não é possível nem identificar os rostos de quem a cerca, por mais que essas pessoas falem enquanto ela apenas escuta e observa. Ela também é vista completamente isolada, mesmo quando praticando com outra pessoa ou em grupo.

A presença dos homens ao redor da protagonista, especialmente, fica muito marcada com os elementos mencionados. São os personagens com os rostos menos mostrados, aliás. Julie conversa com uma amiga enquanto um treinador aparece para ver o que está acontecendo, ele fica separado delas pela rede de proteção da quadra de tênis. Quando Julie vai para a fisioterapia, por exemplo, é um homem que toca seu corpo e direciona seus exercícios. É impossível, até nesses momentos, que ela deixe de pensar nos assuntos que agora rondam sua vida.

O peso da narrativa também foca na contradição dos momentos solitários de Julie com seus momentos em grupo com outros atletas tão jovens, e inocentes em certo sentido, precisando lidar com essa situação tão difícil. Em algumas cenas, Julie deita, reflexiva, em posição fetal ou corre sozinha na rua escura. Em outras, vemos o grupo reunido tirando fotos, fazendo careta e dando o dedo do meio para a câmera.

Respondendo à pergunta do início, por mais que a gente a acompanhe o tempo inteiro, o filme deixa claro que a decisão da vítima em casos como esse precisa ser respeitada ao mesmo tempo que ressalta o apoio que essas pessoas precisam receber. Sem didatismo e com um ritmo em que pouca coisa parece acontecer, Julie Permanece em Silêncio reflete de forma cuidadosa um tema bastante discudido nos dias de hoje.

NOTA: 4/5