O Último Episódio (2025)

É muito curioso como a produtora Filmes de Plástico criou uma identidade própria para seus filmes nada plásticos: um cinema quentinho, cenas filmadas em planos abertos e uma sensação de tudo ali ser muito real, mesmo quando as situações são um pouco mais elaboradas do que as de um cotidiano “comum”, como em No Coração do Mundo (2019), dirigido por Gabriel Martins e Maurílio Martins.

Em O Último Episódio, também dirigido por Maurílio, que assina o roteiro ao lado de Thiago Macêdo Correia, o começo dos anos 90 é cenário para a história de Erik (Matheus Sampaio), um garoto de 13 anos que tem uma paixão platônica por Sheila e, para se aproximar dela, diz ter em casa uma fita com o lendário “último episódio” do desenho Caverna do Dragão. Com a ajuda de seus amigos, precisa inventar uma saída para a enrascada em que se meteu, vivendo uma intensa história de amadurecimento.

Inspirado em memórias de infância, o filme reflete muito da trajetória do próprio diretor, que cresceu em Laguna, bairro de Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte. Algumas fotos reais e narrações nostálgicas se misturam numa viagem quase documental ao período retratado, que também se apoia em músicas da Xuxa e no arranjo musical da trilha sonora original e mais regravações feitas pela banda mineira Pato Fu.

O apelo para a animação Caverna do Dragão, imensamente popular no Brasil, se mistura ao figurino e cotidiano que ajudam a recriar a época em que a história se passa. Amarrada a isso, a forte relação de amizade entre Erik e seus fieis companheiros, Cassinho (Daniel Victor) e Cristiane (Cristão S2) (Tatiana Costa), é o que guia essa aventura. O desenvolvimento dos dois aliados acontece de forma rápida, especialmente na reta final do longa, mas o carisma da produção é tão grande que deixa todos os pontos que possam soar negativos menos relevantes.

Em uma leitura mais pessoal, tendo crescido e sido criado na região da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, não tive como não ver nos personagens secundários pessoas que estiveram presentes na minha infância e adolescência. A figura da mãe batalhadora pode ser encarada quase como exagerada, mas é uma realidade que eu não precisava ir muito longe para encontrar. Mesmo os papéis menores trazem símbolos dessas pessoas que só costumamos ver de vez em quando, mas que nos marcam para sempre, como um vendedor de uma lojinha de bairro e algum funcionário dos colégios em que estudei. Babi Amaral, aliás, no papel da diretora Simone, entrega uma das personagens que mais me fez rir nos últimos tempos. O filme ainda conta os três diretores da Filmes de Plástico, Maurílio Martins, Gabriel Martins e André Novais Oliveira em participações especiais bastante simpáticas e bem encaixadas dentro da trama.

Em uma espécie de Sessão da Tarde um pouco mais aprofundada no drama de seus personagens e relações, O Último Episódio pode chegar aos cinemas de maneira menos grandiosa do que outros títulos nacionais e até mesmo que outras produções da própria Filmes de Plástico, mas este talvez inclusive seja seu maior acerto para se encaixar em um lugar bem especial dentro de quem estiver assistindo.

Obs.: E umas locações belíssimas escolhidas para algumas cenas externas, hein!