Jovens Mães (2025)

49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Vencedor do prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes

A vida de jovens mães não é um tema incomum em filmes, séries e até mesmo reality shows – literalmente existiu um grande hit na MTV (RIP) chamado Teen Mom, lembra? Agora é a vez do cinema realista e social de Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne abraçar o tema com sensibilidade e cuidado.

Em Jovens Mães (Jeunes Mères), selecionado da Bélgica para uma possível indicação ao Oscar de Melhor Filme Internacional em 2026, os irmãos cineastas mostram a realidade dessas mulheres diante das escolhas possíveis dentro da situação que enfrentam.

As personagens, aliás, também mostram a diversidade dentro dessa realidade. Apesar de conectadas por estarem recebendo apoio do mesmo abrigo e políticas públicas voltadas para jovens mães de baixa renda, cada uma delas possui uma história muito específica. Uma delas, grávida, vai atrás de sua mãe biológica, que nunca conheceu. Outra, com um bebê recém-nascido, é abandonada pelo também jovem parceiro que acabou de sair de um centro de detenção para menores. E uma delas, além de todo o protocolo para poder deixar seu bebê com pais adotivos, ainda precisa lidar com uma mãe controladora que agora quer fazer “dar certo” com o bebê que a filha não quer criar.

Aqui o cinema não quer exatamente ser inovador, especialmente se o filme é comparado com o restante da filmografia dos Dardenne. A ideia é abordar o tema de forma sensível, mostrando que elas precisam ter sua força e escolhas respeitadas, quaisquer que sejam essas escolhas. É como se a maternidade virasse o único mundo dessas mulheres. Para se aprofundar na realidade, acompanhamos seus dilemas dentro de toda a burocracia e protocolos que enfrentam para seguir com suas vidas.

Temas como ansiedade e a restrição ao trabalho tornam essas vidas ainda mais difíceis, mas nada é sensacionalista ou gratuito. Em um momento marcante, uma delas precisa entregar o bebê para o primeiro contato com os pais adotivos e pede, emocionada, que eles prometam que vão ensinar música para a criança quando ela crescer.

Na tentativa de equilibrar a história de suas personagens com comentários sobre como o sistema funciona para essas jovens mães na Bélgica, o roteiro cai por vezes em um didatismo e na impressão de que já vimos tudo aquilo antes. Mas gosto especialmente da forma como essas personagens são apresentadas aqui. Em uma cena, não vemos de primeira que uma das mães faz suas tarefas do dia enquanto seu bebê repousa sobre a cama, em outra demoramos mesmo até a ver a barriga de uma das personagens grávidas. Essas mulheres são reveladas aos poucos, tanto pela forma como são filmadas quanto pelas suas histórias, personalidades e desejos, que se revelam gradualmente, com a câmera acompanhando sempre a personagem que é a protagonista de cada cena, mergulhando o espectador cada vez mais em seus cotidianos.

Mesmo sem grandes inovações, é bonito ver a delicadeza e o cuidado dos Dardenne em um tema tão complexo que, em outras mãos, poderia simplesmente cair em uma fácil romantização. Jovens Mães estreia em janeiro de 2026 nos cinemas brasileiros.