49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Vencedor do prêmio do público no Festival de Locarno. Também foi exibido no Festival de Tribeca.
Desgraça pouca é bobagem. E entrar na sessão de Rosemead sem saber exatamente do que o filme se trata pode piorar ainda mais a sensação que essa expressão popular retrata. O letreiro de “inspirado em fatos reais” e a cena de abertura com um pai, uma mãe e um filho – uma família sino-americana – dançando felizes enquanto cantam no karaokê em um quarto de hotel dão um tom misterioso para o que está por vir. O tom, aliás, ou a dificuldade de encontrar um, é um dos grandes problemas do longa estrelado por Lucy Liu.

Em poucos minutos, descobrimos que Irene, a protagonista, está com um câncer em estágio terminal, tem poucos meses de vida. Ela esconde a doença do filho, que sofre de esquizofrenia e desenvolve um fascínio por notícias de atiradores em escolas dos Estados Unidos. Os dois ainda vivem o luto pela recente perda do marido/pai. Eu nem acho um absurdo que todas essas tragédias aconteçam em tão pouco tempo com a família, mas a falta de tato do roteiro e da direção dá adeus a qualquer sutileza e cuidado que o filme poderia ter ao tratar de tais temas.
O diretor Eric Lane começa seu longa como um drama denso, mas pesa ainda mais a mão nos momentos mais tensos. O tom vai de um melodrama para um thriller familiar rapidamente e depois volta. Essa bagunça faz com que momentos com bom potencial sejam desperdiçados, como o treinamento escolar para o caso de um atirador entrar no colégio.
É interessante ver Lucy Liu desmontada como essa mãe taiwanesa, mas isso não quer dizer que ela esteja bem. A atuação exagerada é ofuscada por todos os outros pontos negativos do filme. Que sorte a dela.
O retrato de descendentes de asiáticos nos Estados Unidos se torna o ponto mais interessante do longa, ainda que pouco aproveitado. A diferença entre o tratamento dos adultos entre si e o dos colegas de escola do filho de Irene mostra a complexidade dessas pessoas isoladas por preconceitos, mas que também possuem conflitos entre si, ou pontos de apoio, no caso dos mais jovens.
A “demora” da protagonista para agir diante das descobertas pode causar desconforto. Acho muito humana a vontade de querer dar conta de tudo por conta própria. Uma visão talvez preconceituosa pode relacionar esse fator à questão cultural asiática, frequentemente apontada como mais reservada. Mesmo assim, o roteiro também não é eficaz em nos deixar ao lado dessa mulher que tenta, a todo custo, resolver sozinha todos os dilemas de sua vida.
A questão psiquiátrica do personagem do filho, Joe, também é abordada de forma rasa, sendo resumida em boa parte aos remédios que ele toma e às suas mudanças quase imediatas de comportamento assim que interrompe o tratamento. Isso se soma com a atuação exagerada de Lawrence Shou, que cai em estereótipos de personagens do tipo. Juro que existe uma cena de Joe sujo, revirando lixo e completamente fora de si.
Com um roteiro que seria completamente ressignificado nas mãos de um diretor como John Waters (eu adoraria ver esse filme!), Rosemead cai no mau gosto e na caricatura, mesmo se baseando em uma história real tão forte e com um desfecho tão impactante. Uma pena.






