Baby (2024)

48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Vencedor do prêmio de ator em ascensão para Ricardo Teodoro na Semana da Crítica do Festival de Cannes

Depois de sucesso em festivais ao redor do mundo, Baby, novo filme do diretor Marcelo Caetano (Corpo Elétrico) chega aos cinemas do Brasil.

No filme, após ser liberado de um centro juvenil, Wellington (João Pedro Mariano) se vê sem teto em São Paulo. Em um cinema pornô, ele conhece Ronaldo (Ricardo Teodoro), que o ensina a sobreviver nas ruas. O vínculo entre eles se transforma em um caso turbulento.

O filme se destaca ao mostrar com sensibilidade a relação de seus complexos personagens na São Paulo dos marginalizados.

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Babygirl (2024)

Nicole Kidman é a protagonista de Babygirl, thriller erótico dirigido por Halina Reijn (Morte, Morte, Morte) que acaba de chegar aos cinemas do Brasil.

Na trama, acompanhamos Romy (Kidman), uma CEO bem sucedida que coloca em risco sua vida pessoal e profissional quando se envolve em um jogo de gato e rato com Samuel (Dickinson), o novo estagiário da empresa em que ela trabalha. O longa rendeu o prêmio de Melhor Atriz para Nicole Kidman no Festival de Veneza de 2024.

Além de Kidman e Dickinson, Babygirl conta com Antonio Banderas, Sophie Wilde, Izabel Mar, Esther Rose McGregor e Vaughan Reilly no elenco. O filme conta com distribuição da Diamond Films.

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O Auto da Compadecida 2 (2024)

Quando o trailer de O Auto da Compadecida 2 chegou há alguns meses, a suspeita levantada não foi das melhores. A produção, toda feita em estúdio, e a repetição de alguns elementos marcantes do primeiro filme levantaram de imediato questões sobre a originalidade da sequência de um dos títulos mais icônicos do cinema brasileiro.

A trama se inicia 20 anos depois da história que já se conhece. Agora, João Grilo (Matheus Nachtergaele) retorna à Taperoá para se juntar ao velho companheiro Chicó (Selton Mello) e, após sua história de ressurreição ter se espalhado, é disputado como cabo eleitoral por dois poderosos políticos na cidade.

De fato, o estúdio, o CGI e as maquetes estão muito presentes no novo filme, mas sua utilização pode ser encarada como certo olhar fantástico numa artificialidade que dispara bonitos momentos na vida de personagens tão marcantes na cultura nacional. Mas novas caras formam um time de peso na sequência. Fabíula Nascimento, Humberto Martins, Luís Miranda, Taís Araújo e Eduardo Sterblitch são apostas certeiras de rostos carismáticos e talentosos.

Fica difícil, entretanto, não questionar  a maioria branca e sudestina em uma história que representa tão intensamente uma cultura regional do Brasil. Por mais talentosos que sejam, é bastante complicado encarar, por exemplo, os sotaques falsos que tanto são questionados até hoje por estarem presentes em nossas telenovelas.

Falando em talento, a dupla de protagonistas segue sendo destaque nesse novo filme. Selton Mello está mais contido e consegue adaptar o tempo passado entre as duas narrativas para como ele afeta seu personagem de maneira muito cuidadosa. Matheus Nachtergaele é tão talentoso que não chega necessariamente a surpreender, mas ganha ainda mais espaço para fazer seu João Grilo brilhar em tela. Apesar do roteiro se apoiar bastante nos trejeitos já conhecidos do personagem, Matheus tem a possibilidade de demonstrar sua versatilidade em cenas como a revisita ao clássico momento do purgatório, que funciona quase como uma homenagem a uma das cenas mais marcantes do cinema nacional. E aproveitando as menções para o sucesso do original, destaco também a sempre excelente Virginia Cavendish, como uma Rosinha agora mais independente e com mais motivações.

A direção de Guel Arraes e Flávia Lacerda é divertida, brinca com profundidade e foco em diversos momentos. Ao lado de João Falcão e Adriana Falcão, Guel assume o roteiro, que chegou a ser conversado com Ariano Suassuna em etapas iniciais e foi aprovado pela família do escritor. O salto temporal é usado para encher a trama de elementos baseados nas mudanças da vida dos personagens e traz uma boa, mas não muito profunda (o que também não seria a intenção) discussão sobre polarização política, tecnologia e manipulação dos meios de comunicação. O foco nessa temática e no resgate nostálgico acaba sendo atrapalhado por inserções publicitárias mal colocadas e uma fraca resolução para os diversos e carismáticos personagens secundários.

Brincando com o próprio fato de ser uma continuação, O Auto da Compadecida 2 chega em um bom momento, aproveitando o espaço que grandes estreias nacionais costumam ter nessa época do ano. E apesar dos atropelos e repetições já citadas do roteiro, o sucesso, sem dúvidas, é certo.

NOTA: 3/5

Como Ganhar Milhões Antes que a Avó Morra (2024)

Com uma sequência de abertura efetiva, Como Ganhar Milhões Antes que a Avó Morra (Lahn Mah) apresenta elementos culturais de forma aparentemente bastante natural, ao mesmo tempo que desenvolve a narrativa disparando a premissa do longa. Acompanhamos a humilde família protagonista, de origem chinesa, em um belo cemitério da Tailândia.

O filme nos apresenta M, um jovem que abandona o trabalho para cuidar da avó à beira da morte, motivado pela herança que pode receber dela. Ele planeja conquistar a preferência familiar dela antes que ela morra.

Adotando uma narrativa melodramática clássica, o roteiro se apresenta em uma fotografia bonita e bem pensada, usando bem os elementos do caos de uma cidade desde os créditos iniciais. A composição de cenas realmente chama atenção, planejada em cada novo plano e com várias soluções espertas, especialmente nas locações mais movimentadas.

O roteiro ensaia uma reflexão de como a geração z nascida após 2000 está querendo ir atrás de dinheiro de maneiras menos tradicionais, questionando o ideal de se trabalhar com o que se sonha e priorizando a grana. A prima do protagonista, uma das personagens mais interessantes da história, aliás, herda uma mansão, quer investir seu dinheiro e tem uma conta no OnlyFans. Em um contraponto um pouco mais tradicional, há uma romantização da família batalhadora que se sacrifica para manter uma renda que forneça sua sobrevivência: uma mulher larga a escola para trabalhar com a mãe em uma barraquinha de comida de rua e, em uma cena específica em hospital, vemos uma enorme fila marcada no chão pelos calçados das dezenas de pessoas que aguardam atendimento. Esta última é uma cena bonita, reforçada pela já citada cuidadosa fotografia, mas que apela para um sentimentalismo fácil.

Obviamente há muita eficiência nessa apelação. O longa é um ótimo exemplo de como usar clichês de maneira popular em sua primeira metade. A transformação do personagem principal, aprendendo sobre a vida com a avó e tendo uma experiência de evolução em uma história que começou por puro interesse, emociona e causa risadas fáceis em diversos momentos. É o filme “para toda a família”. E digo isso no melhor sentido que essa expressão pode ter.

Na segunda metade, o roteiro se ocupa ainda mais em querer fazer chorar e mergulha no melodrama em uma pesada mão do diretor Pat Boonnitipat. A trilha sonora pesada em momentos emocionados e a exploração mais profunda da condição da avó com câncer acabam enfraquecendo o bom uso dos clichês da primeira hora.

Pensando em mercado internacional e na presença do filme tailandês na shortlist de indicações para a categoria de Melhor Filme Internacional do Oscar, não consigo não questionar certa “limpeza” que é feita dessa Tailândia mostrada para o exterior. Penso nisso levando em consideração muitas das produções que são feitas por aqui também, especialmente as que romantizam pobreza. Infelizmente, também acho que possa ser o caso de Como Ganhar Milhões Antes que a Avó Morra.

NOTA: 2,5/5

Sebastian (2024)

A exposição mal executada e às vezes desnecessariamente verbalizada está entre os grandes problemas de Sebastian. Há uma cena no longa de Mikko Mäkelä em que o protagonista Max, que está acostumado a sair com seus clientes de seu trabalho como garoto de programa, transa casualmente com um colega que, em determinado momento, pede para que ele pegue mais leve no sexo. Logo em seguida, como se já não estivesse claro o que a cena representa, o personagem ainda declara que eles não estão em um filme pornô para que o protagonista se comporte daquela maneira. Esse excesso de explicação que atrapalha diversos momentos do longa.

O filme chega nesta semana aos cinemas brasileiros após passagem por alguns festivais e conta a história de Max, interpretado pelo fraco Ruaridh Mollica, um aspirante a escritor de 25 anos que mora em Londres, começa uma vida dupla como Sebastian, um trabalhador sexual, para inspirar seu romance de estreia.

É triste ver o potencial do filme desperdiçado por conta dessa exposição. Em alguns momentos, o roteiro realmente apresenta bem seus personagens no diálogo, como quando um dos clientes fala sobre decidir ficar em um apartamento grande mesmo depois de passar a viver sozinho. A explicação para isso vem depois, tudo bem, mas é um ótimo momento de abertura de um personagem que não fala muito sobre si e está criando uma conexão com o protagonista.

Falando em seus clientes, há também um estereótipo dos homens atendidos por Max. Todos apresentados são mais velhos, com alguma questão pessoal grave. O único com a idade próxima a do protagonista está fazendo uma festinha com outros garotos de programas, regada a drogas. E nesse sentido, o filme também parece se aprofundar menos do que acha que se aprofunda na questão do trabalho sexual.

Pessoas familiarizadas com debates de temática queer mais facilmente entram de cara no que o filme se propõe em seus primeiros minutos devido a sua forma eficiente de apresentar seu tema e seus personagens. Apesar de ser feito de uma boa maneira, acaba prejudicando o roteiro do longa em seu decorrer.

Não há uma progressão de mudança de comportamento do protagonista para quando sua vida pessoal começa a ser afetada pelo seu trabalho como garoto de programa. Só depois o espectador passa a entender que ele está preso a essa função de uma forma pessoal para além do interesse do que ela pode oferecer positivamente para seu trabalho como escritor.

Apesar dessa falta de progressão, a direção de Mikko assume um caminho seguro e que funciona em diversos momentos para retratar os dilemas internos de Max, que após um grande ato de sabotagem de sua carreira profissional como escritor, caminha por um corredor escuro e depois observa seu reflexo distorcido em uma janela de metrô.

O trabalho de Ruaridh como ator também não ajuda a convencer nessas mudanças de comportamento do personagem. Além de algumas falas colocadas de maneira inverossímil, suas feições nem sempre mostram o que realmente se passa com Max, e não digo isso no sentido de que o personagem é misterioso.

Também são incluídos comentários excessivos sobre a dificuldade financeira do mercado editorial. O não aprofundamento parece deixar a informação presente apenas para o momento em que o protagonista é questionado sobre estar fazendo o trabalho sexual para compensar a dificuldade financeira por tentar viver da literatura, não há um aprofundamento real sobre como essa questão poderia afetar a vida do personagem.

Além disso, também há uma personagem racializada que funciona apenas como a amiga de Max, que o aconselha e serve apenas para que ele exponha seus dilemas, se tornando vítima das irresponsabilidades do protagonista. A existência dessa personagem no terceiro ato é praticamente nula, exceto, é claro, por uma ligação preocupada para o amigo que não dá notícias há um tempo e ainda a usa como desculpa para a própria mãe por ter saído do país repentinamente.

A parte mais interessante do roteiro, que fala sobre a escrita de autoficção e de como o protagonista esconde parte importante de sua vida, também é mal explorada e romantiza a conexão da escrita como arte e experiências pessoais, ignorando todo o trabalho técnico e de reescrita que esse processo envolve. Max é um astro sem parecer se esforçar tanto para isso além de se aventurar com seus clientes enquanto é Sebastian. Eu juro que em uma das últimas cenas ele chega a escrever com papel e caneta o começo de um livro em primeira pessoa. Difícil…

NOTA: 2/5

Ainda Estou Aqui (2024)

48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Vencedor do prêmio de melhor roteiro no Festival de Veneza pelo trabalho da dupla Murilo Hauser, Heitor Lorega

Finalmente! O filme brasileiro Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, chega aos cinemas nacionais! O longa é estrelado por Selton Mello e Fernanda Torres, que ganha cada vez mais força nas especulações de uma possível indicação para a categoria de Melhor Atriz no Oscar, um dos maiores prêmios do cinema mundial. Caso isso aconteça, a atriz repetirá o feito de sua mãe, Fernanda Montenegro, que também está no filme e concorreu na premiação por seu trabalho em “Central do Brasil” (1998).

Ainda Estou Aqui se passa no Rio de Janeiro, no início dos anos 1970, quando o país enfrenta o endurecimento da ditadura militar. Estamos no centro de uma família, os Paiva: um pai, Rubens, uma mãe, Eunice, e os cinco filhos. Vivem na frente da praia, numa casa de portas abertas para os amigos. O afeto e o humor que compartilham entre si são suas formas sutis de resistência à opressão que paira sobre o Brasil. Um dia, eles sofrem um ato violento e arbitrário que vai mudar para sempre sua história. Eunice é obrigada a se reinventar e a traçar um novo destino para si e os filhos. Baseada no livro biográfico de Marcelo Rubens Paiva, a história emocionante dessa família ajudou a redefinir a história do país.

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Sol de Inverno (2024)

48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Exibido nos festivais de Cannes, Toronto e San Sebastián

Sol de Inverno (Boku No Ohisama) chegou ao Brasil na Mostra de São Paulo com uma curiosidade extra para cinéfilos. O filme japonês dirigido e escrito com sensibilidade por Hiroshi Okuyama, que também assina a belíssima fotografia da produção, é o primeiro longa distribuído pela Michiko, distribuidora criada por Michel Simões e Chico Fireman, membros do saudoso podcast Cinema na Varanda, que muito aumentou meu conhecimento sobre diretores internacionais. O longa tem previsão de estreia para janeiro no Brasil.

O filme se passa em uma pequena ilha japonesa, onde a vida gira em torno das mudanças das estações. O inverno é época de hóquei no gelo na escola, mas Takuya não demonstra muita animação com isso. O verdadeiro interesse do garoto está em Sakura, uma estrela em ascensão da patinação artística de Tóquio, por quem ele desenvolve um fascínio genuíno. Arakawa, treinador e ex-campeão da modalidade, vê potencial em Takuya e decide orientá-lo para formar uma dupla com Sakura para uma competição que acontecerá em breve. Enquanto o inverno se prolonga, os sentimentos se aprofundam, e os dois jovens criam um vínculo harmonioso. Mas até mesmo a primeira neve acaba derretendo.

O paralelo entre o hóquei e a patinação traz um dos temas centrais: o que é esperado de meninos e meninas. A representação da masculinidade é um dos fatores centrais do longa, tanto na figura de Takuya, que transita do hóquei para a patinação, quanto na de Arakawa, que vive com seu namorado e não tem maiores questões em relação a sua sexualidade.

Enquanto esses personagens se aproximam, o espectador é apresentado, em várias cenas, aos personagens observando outras situações. Apesar dos acontecimentos serem centrais, o foco é nos olhares desses protagonistas para o que está ocorrendo, destacando a sensibilidade e reações de cada um de maneira muito íntima, já que na maior parte dessas “observações” eles se encontram sozinhos.

O rinque, quando utilizado para a patinação artística, é apresentado como um lugar mágico. A luz do dia do lado de fora é mostrada de forma estourada nas janelas. Não é possível ver o exterior desse lugar, porque enquanto os personagens patinam, nada do que está fora dali realmente importa.

Os momentos de dança, aliás, são filmados com delicadeza e acompanham os movimentos dos artistas sem cortes. Eles saltam e deslizam em velocidade alta de forma muito natural. E momentos como esses são embalados de forma muito emocionante pela tocante canção Clair De Lune, de Claude Debussy. Vale também destacar o cuidado com que a relação entre professor e alunos é mostrada, pois esse ponto poderia facilmente ser abordado de forma problemática.

Quando esses personagens se aproximam e praticam juntos, as cenas de observação alheia terminam e o espectador se torna o observador. Agora os protagonistas estão juntos. E apesar da trama se desenvolver lentamente até essa união principal, os momentos finais dão lugar a conflitos e resoluções de maneira apressada.

Como se tivessem vivido um “amor de inverno”, a estação vai mudando, a neve vai embora e as cores do filme se tornam mais quentes. Os três protagonistas, então, tomam atitudes e se transformam junto com o clima em um desfecho quase agridoce, mas que não deixa de espantar por conta da forma repentina que acontece. As mudanças são justificadas, mas parecem pouco trabalhadas em um roteiro que era tão profundo em relação aos sentimentos de seus protagonistas na maior parte do tempo.

Takuya, Sakura e Arakawa não são mais os mesmos e, apesar dessa mudança tão rápida quanto o derretimento da neve no fim do longe, Sol de Inverno tem sua força concretizada na sensibilidade com que aprofunda a relação dos três e a paixão que eles compartilham pela patinação artística e o momento muito único que viveram juntos.

NOTA: 3,5/5

Malu (2024)

Vencedor do Prêmio Paradiso na 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Exibido no Festival de Sundance

A estreia na direção de longa-metragem do diretor Pedro Freire pode causar estranheza em um primeiro momento. Com o passar dos minutos, especialmente em sua segunda metade, quando a situação de sua protagonista é revelada, o filme caminha para o tema de saúde mental. Confesso que minha reação inicial foi ter medo de como a questão seria abordada, mas a história ganha uma nova camada quando Pedro revela, no fim da projeção, que seu roteiro é inspirado na história de sua mãe, Malu Rocha.

Em Malu (2024), vencedor do Prêmio Paradiso na 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, a protagonista é uma mulher de meia-idade que teve um passado glorioso e agora está presa em um grande caos existencial. No embalo dos anos 90, a complexa relação com sua mãe conservadora e sua filha torna a crise ainda mais aguda, entre momentos de carinho e alegria entre as três. Uma mulher em busca de si mesma.

Para explicar essa relação familiar, primeiro Malu (Yara de Novaes) é apresentada como filha, em um conflito que estabelece bem as diferenças ideológicas entre a protagonista e sua progenitora Lili, interpretada por Juliana Carneiro da Cunha. Em seguida, conhecemos a Malu mãe, carinhosa e com muitas saudades de sua filha única, Joana (Carol Duarte).

As questões entre essas três gerações de mulheres com personalidades muito fortes destacam um subtexto que reflete a cultura, especialmente o teatro, nos dias de hoje. Joana e seus amigos escutam apaixonados as histórias do passado de Malu ao mesmo tempo que ouvem com admiração, mas sem realmente acreditar, os planos da mulher para construir um centro cultural popular que tem como base o terreno de sua casa.

Tibira, personagem que lindamente ganha vida nas mãos de Átila Bee, representa o artista e a cultura contemporâneos, que abre espaço para corpos que normalmente não eram associados a essa esfera, e que mesmo mais presentes, ainda enfrentam preconceito. Apesar das dificuldades, Tibira nunca deixa de essencialmente ser quem simplesmente é.

As três atrizes protagonistas conseguem explicitar tanto as diferenças quanto o carinho e afeto entre suas personagens. Suas conversas, abraços e reflexões são enquadrados de forma muito poética pelos olhos do diretor e roteirista. A cena de Joana e Malu deitadas na cama, assim como a da filha observando a mãe dançar, é de tirar o fôlego. As relações entre as três são complexas e, mesmo após discutirem com insultos pesados, dividem tarefas e se ajudam mutuamente em outras situações. E é nesse ponto que a temática que está mais na superfície do filme me atinge de maneira pessoal com um momento presente na vida de tanta gente: quando um filho passa a ter que cuidar da própria mãe. Até que ponto a responsabilidade de cuidar dos próprios pais deve respeitar a linha que talvez impeça o filho de seguir a própria vida do jeito que sempre sonhou? E isso se aplica tanto a Malu quanto a Joana, num cuidado e maestria de amarrar esse assunto no roteiro.

A sensação que tive, ao longo do filme, foi que essa história assume quase que um tom de fábula. Isso começa devagar, com uma discussão de Malu com sua filha numa noite em que a casa fica sem energia elétrica, e vai até símbolos mais fortes. O afastamento repentino de personagens e a deterioração dos sonhos e da casa de Malu, que parece ir ficando mais largada, com paredes no tijolo, sem pintura e móveis antigos. É como se a mente de Malu extrapolasse seu corpo e se materializasse no mundo físico ao seu redor.

O filme termina com um comentário social expositivo, porém direto, reflexo da relação entre todos os seus personagens ao longo de seus 100 minutos. A protagonista fala sobre as diferenças de gerações e de questionamentos sobre o futuro de uma forma mais explícita do que o roteiro tinha feito até então. Não prejudica, mas causa estranhamento. É uma boa decisão para a reflexão do público após a sessão: quais são as grandes diferenças entre essas gerações e como a sociedade é reflexo delas? Após reflexões em meio a devaneios, Malu pergunta para a própria filha, e também para o público, qual o destino da viagem que estão fazendo.

Terrifier 3 (2024)

Terrifier 3 (2024) chega aos cinemas com barulho. Segue quebrando recordes de bilheteria, desbancando o INJUSTIÇADO e rejeitado Coringa: Delírio a Dois (2024) e criando expectativa nos que já estavam com saudades do palhaço assassino criado por Damien Leone.

No longa, seguimos acompanhando os personagens que conhecemos em Terrifier 2 (2022). Após sobreviver ao massacre de Halloween do palhaço Art, Sienna e seu irmão lutam para reconstruir suas vidas despedaçadas. No entanto, justo quando pensam que estão seguros, Art retorna, determinado a transformar sua alegria natalina em um pesadelo.

Nos momentos iniciais, o filme se perde em uma longa contextualização. A cena de abertura é chocante e divertida, envolve o Natal e crianças, já dizendo que o terceiro capítulo da franquia pode entregar de tudo, mesmo que esse tudo já esteja dentro de muito ao que já fomos expostos nos dois anteriores.

Depois dessa cena, apesar de voltarmos para o ponto exato em que o segundo filme nos deixou, há uma longa exposição de como Art e Victoria Hayes (sua já conhecida vítima e agora nova parceira) se isolaram e retornam após cinco anos dos últimos acontecimentos.

Essa parceria, aliás, é um dos pontos fracos do longa. Enquanto Art não fala nada e tem sua boa parte de seus carisma vindo de suas reações e risadas silenciosas do sofrimento de suas vítimas, Victoria fala de forma excessiva, explicando várias vezes suas motivações e desejos macabros para a protagonista, especialmente na cena do conflito final.

A verdade é que Terrifier 3 não supera seu anterior (não que a narrativa dos filmes seja necessariamente marcante), mas se segura bem nas cenas de extrema de violência e no carisma de seu serial killer protagonista. É praticamente o mesmo filme que o anterior, mas com uma roupagem de Natal e um mergulho não muito convincente no personagem e sua mitologia. Há um esforço para entendermos de onde vem e como vencer esse mal. Cá entre nós, esse jamais foi o forte da franquia e, aqui, parece ser usado mais como um apoio para que personagens já conhecidos sejam mantidos e na criação de um gancho para o já garantido próximo capítulo da história.

A maioria dos novos personagens é apresentado para morrer, o que não é incomum no terror. O núcleo da universidade em que Jonathan, personagem de Elliot Fullam, é introduzido, porém, não se conecta com a trama central, funcionando como um palco para as novas vítimas e menos como um grande motivador da história.

Sienna, interpretada pela carismática e muito competente Lauren LaVera (que é a cara da Manu Gavassi, nao é?), é a personagem responsável pela trama principal. O papel de “escolhida” para derrotar o mal é explorado em fracos flashbacks de convivência com seu pai na infância, em um alongamento da história, especialmente em sua primeira metade, que não agrada quem está mais animado para ver Art dando seu show de violência.

Art é o coração. E é por isso que a última hora do filme ganha um pouco mais de força. Com o humor como forte aliado, adoro o fato do personagem ser genuinamente apaixonado pela figura do Papai Noel, o que é revelado numa boa cena dentro de um bar. E o exagero de sangue volta ao palco com cenas que tentam ser marcantes, mas que não chegam aos pés da famigerada cena no quarto do longa anterior (cês lembram dele voltando com o sal na mão? cinema!). Visualmente melhor resolvido, a matança aqui apela para partes do corpo congeladas, ratos literalmente enfiados goela abaixo e muitos membros desconectados dos corpos. Há também uma reconstrução de uma morte bastante polêmica e criticada do primeiro filme, o momento em que Art serra uma mulher no meio, começando por entre suas pernas. Dessa vez, um homem é mutilado de forma parecida numa tentativa clara de dizer que as críticas foram escutadas e que agora Art é cruel com homens também, com um foco bastante explícito na genitália da vítima para que não haja dúvidas de que o palhaço não é tão misógino assim (spoiler: ele é).

Enquanto uma parte minha tem uma forte curiosidade de ver o que Damien Leone pode fazer com histórias diferentes, outra prefere que ele se mantenha com Terrifier, já que a criatividade não parece caminhar para muitos lugares distintos.

Vítima do próprio crescimento, a franquia parece não saber muito que rumo tomar. Pensando em mortes elaboradas, Premonição se saiu melhor em seu legado, talvez por nao querer conectar suas histórias contadas em uma mitologia complexa, que é um dos principais problemas aqui. Apesar da duração menor que a do anterior, o tempo parece passar bem mais devagar em Terrifier 3.

E uma última curiosidade: pesquisando sobre o filme, descobri que o ator Elliott Fullam tem um projeto musical meio indie bem agradável, ou pelo menos melhor do que o trabalho que entrega especialmente nesse terceiro longa (não que isso fosse muito difícil). Confere aí:

Todo Tempo Que Temos (2024)

O romance Todo Tempo Que Temos (We Live In Time) chega aos cinemas essa semana e, apesar de inovações dentro de uma premissa bastante batida, o roteiro parece não gostar muito da protagonista interpretada por Florence Pugh, enquanto passa pano para as decisões do personagem de Andrew Garfield. É o tipo de filme que você gosta? Conta pra mim se você já conferiu ou vai assistir ao filme nos cinemas!

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