49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo 33º Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade
Em Gravidade(2025), primeiro longa-metragem do diretor Leo Tabosa, às vésperas do fim do mundo, Sydia (Clarisse Abujamra) e sua filha Nina (Hermila Guedes) se veem presas em uma noite interminável dentro da antiga mansão da família. Enquanto o isolamento acirra os conflitos entre mãe e filha, a chegada inesperada da misteriosa Lara (Danny Barbosa) desperta tensões.
Em conversa com o diretor, ele fala sobre a temática em comum de seus filmes, as diferenças na hora de fazer um curta e um longa-metragem, sua relação com o cinema de gênero e como foi o trabalho de fotografia e elenco em Gravidade.
Oeste Outra Vez finalmente chega aos cinemas nacionais trazendo um faroeste brasileiro baseado na masculinidade exagerada.
No filme, no sertão de Goiás, homens brutos que não conseguem lidar com suas fragilidades são constantemente abandonados pelas mulheres que amam. Tristes e amargurados, eles se voltam violentamente uns contra os outros.
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É muito bonito ver a equipe de um filme tão envolvida e engajada em seu trabalho, levando realmente a sério a ideia de que o cinema é uma arte coletiva e compartilhada. Esse definitivamente é o caso de Câncer com Ascendente em Virgem.
No filme, acompanhamos Clara (Suzana Pires), uma professora que, após receber o diagnóstico de câncer de mama, começa a ver sua vida e suas relações sob uma nova perspectiva, sempre apoiada pela mãe, Leda (Marieta Severo), e pela filha Alice (Nathália Costa). O longa é dirigido por Rosane Svartman (Desenrola, Como Ser Solteiro) e é baseado na história da produtora Clélia Bessa, que durante o tratamento que a curou de um câncer de mama em 2008, lançou o blog “Estou com Câncer, e Daí?”, que posteriormente foi transformado em livro. O roteiro é assinado por Suzana Pires, em parceria com Martha Mendonça e Pedro Reinato, e conta com a colaboração de Ana Michelle, Rosane Svartman e Elisa Bessa, filha de Clélia.
Desde a apresentação dos patrocinadores e instituições parceiras, o filme não sente vergonha de assumir o papel de uma espécie de campanha de prevenção ao câncer de mama. Seus primeiros minutos se transformam num manual desse cuidado, passando pela descoberta do tumor, uma segunda, terceira e outras opiniões sobre o caso, até o conselho de que Clara deve aproveitar bem a vida antes de começar a quimioterapia.
O tom varia entre o drama e a comédia na defesa de uma leveza para o filme, mas acaba caindo em alguns clichês e estranhezas quando piadas se perdem no meio de uma trilha sonora pesada, que é boa, mas tira o efeito de momentos engraçados, como quando Clara menciona que o pensamento de que sua filha teria que ser cuidada somente pelo ex foi o suficiente para motivá-la contra o câncer. A trilha, aliás, é original e assinada por Flavia Tygel, contando ainda com uma canção interpretada por Preta Gil, que teve sua história com o câncer muito comentada nos últimos anos.
Ainda nas repetições narrativas, o texto não poupa momentos e frases motivacionais. Algumas frases chegam a soar didáticas e não muito verossímeis dentro dos diálogos, apelando de forma fácil para a emoção quando questiona termos como “perder a batalha para o câncer” e usando frases de consolo como “essa dor que você está sentindo é do tamanho do amor que você sente por ela”.
O roteiro acerta ao complexificar sua protagonista, somando questões para além de sua saúde. Os fatores de ser mulher, mãe, divorciada e uma professora que cria videoaulas para internet são amarrados de forma muito orgânica na narrativa e usados de maneira equilibrada, nada é aleatório e todas as questões se amarram. Outro acerto é a abordagem do tema geracional presente na relação familiar das três mulheres principais do longa. A intimidade entre Clara, Alice e Leda salva, por exemplo, uma clássica cena dos filmes com a mesma temática, com a protagonista raspando a cabeça, de cair num grande clichê. A cena comove muito também por conta do elenco. O filme também faz questão de jogar fora qualquer ideia de rivalidade feminina, colocando Ju (Julia Konrad), a atual do ex, também em um papel de apoio para a protagonista.
O elenco pode ser considerado o ponto alto do longa. Suzana Pires está completamente envolvida e entregue ao seu papel, expressando emoção para além da personagem nas cenas mais exigentes. O auge disso é a bonita cena da praia, em que a personagem mergulha no mar acompanhada de suas parceiras de vida naquele momento. Marieta Severo segura com seu incontestável talento uma personagem que demora para engrenar e fica presa na piada repetitiva de apostar em várias crenças religiosas para apoiar a filha. Além delas, o filme também conta com a jovem e ótima Nathália Costa, o talento já conhecido de Julia Konrad e Ângelo Paes Leme.
Fabiana Karla e Carla Cristina Cardoso (também ótimas) interpretam as amigas da protagonista. Enquanto a primeira é uma vendedora que tem seus laços intensificados com Clara após revelar que também vive com câncer, caminhando para um lugar bastante previsível dentro da história, a segunda assume o papel de melhor amiga, o que me faz questionar um ponto mais delicado do longa. Há uma clara preocupação em colocar atores negros ao redor da protagonista do longa, mas todos aparecem sem muita profundidade ou outras camadas, ao contrário de todos dos papeis de todos os outros membros brancos do elenco principal. Enquanto Paula, personagem de Carla, é a amiga negra que representa todas as amigas ao redor da protagonista da história real, temos atores negros interpretando médicos e até uma transa casual da personagem principal. A impressão, infelizmente, é de que essas pessoas estão ali para garantir a diversidade visual do elenco.
Já na reta final, Câncer com Ascendente em Virgem segue caminhos mais tradicionais para tramas do gênero. Vemos a protagonista exausta, tendo seu cansaço disfarçado por filtros de aplicativos para celular em uma ótima sacada da história, mas com uma exposição também fácil quando chega ao auge desse sentimento durante uma live que a personagem faz com o humorista Yuri Marçal.
Cheio de boas intenções bem fundamentadas e que cumprem seu papel, o filme termina com um ar de “filme para toda família”, o que é ótimo, mas o limita em grandes inovações que a história poderia proporcionar. Mas essa é a proposta do longa e está tudo certo. A sensação de que o trabalho cuidadoso foi feito com uma extrema parceria da equipe, como mencionei no começo do texto, é, com razão, um dos fatores mais emocionante dessa bonita história.
48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo Vencedor do prêmio de ator em ascensão para Ricardo Teodoro na Semana da Crítica do Festival de Cannes
Depois de sucesso em festivais ao redor do mundo, Baby, novo filme do diretor Marcelo Caetano (Corpo Elétrico) chega aos cinemas do Brasil.
No filme, após ser liberado de um centro juvenil, Wellington (João Pedro Mariano) se vê sem teto em São Paulo. Em um cinema pornô, ele conhece Ronaldo (Ricardo Teodoro), que o ensina a sobreviver nas ruas. O vínculo entre eles se transforma em um caso turbulento.
O filme se destaca ao mostrar com sensibilidade a relação de seus complexos personagens na São Paulo dos marginalizados.
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48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo Vencedor do prêmio de melhor roteiro no Festival de Veneza pelo trabalho da dupla Murilo Hauser, Heitor Lorega
Finalmente! O filme brasileiro Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, chega aos cinemas nacionais! O longa é estrelado por Selton Mello e Fernanda Torres, que ganha cada vez mais força nas especulações de uma possível indicação para a categoria de Melhor Atriz no Oscar, um dos maiores prêmios do cinema mundial. Caso isso aconteça, a atriz repetirá o feito de sua mãe, Fernanda Montenegro, que também está no filme e concorreu na premiação por seu trabalho em “Central do Brasil” (1998).
Ainda Estou Aqui se passa no Rio de Janeiro, no início dos anos 1970, quando o país enfrenta o endurecimento da ditadura militar. Estamos no centro de uma família, os Paiva: um pai, Rubens, uma mãe, Eunice, e os cinco filhos. Vivem na frente da praia, numa casa de portas abertas para os amigos. O afeto e o humor que compartilham entre si são suas formas sutis de resistência à opressão que paira sobre o Brasil. Um dia, eles sofrem um ato violento e arbitrário que vai mudar para sempre sua história. Eunice é obrigada a se reinventar e a traçar um novo destino para si e os filhos. Baseada no livro biográfico de Marcelo Rubens Paiva, a história emocionante dessa família ajudou a redefinir a história do país.
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Desde o início, o novo filme de Davi Pretto apresenta a pele de seus personagens. Bem de perto, em seus detalhes, sendo tocadas por outra pessoa. Esse fator ajuda bastante quando, em sua segunda metade, Continente assume seu legado como cinema de gênero brasileiro e apresenta uma cena de terror que exala tesão.
O novo filme do diretor de Rifle (2016)mostra o retorno de Amanda para sua casa, que volta acompanhada do namorado, depois de 15 anos no exterior. Eles chegam na enorme fazenda da família da jovem, localizada em um vilarejo isolado nas intermináveis planícies do sul do Brasil. Lá, Amanda encontra o pai em coma e uma tensão cada vez maior entre os trabalhadores da propriedade. A única médica das redondezas é Helô, uma mulher que renuncia a si mesma para tratar dos habitantes da cidadezinha. A iminente morte do fazendeiro coloca Amanda, Martin e Helô no centro de um perturbador acordo com a população da vila.
Os personagens são apresentados sem se contar muito sobre o passado da relação deles, descobrir aos poucos é um dos elementos que ajudam na criação de uma atmosfera bastante carregada e sombria: algo ruim sempre parece estar no ar.
O caráter expositivo do roteiro, entretanto, se torna um problema para acompanhar o longa em sua primeira metade. Os personagens reproduzem frases que remetem o tempo todo aos temas do filme, praticamente deixando o ‘sub’ do subtexto de lado Para falar de exploração do trabalho e escravisão moderna, os diálogos incluem falas como “vou mostrar para o povo que é possível viver de um jeito diferente” e “você não pode dizer o que é melhor para eles”, que desconectam o espectador da trama intrigante que o longa apresenta para sua mensagem central.
Um dos motivos que não deixa o filme cair no terror social fácil é o elenco. A quantidade de personagens não é pequena e os peões centrais dessa história estão em boas mãos, com destaque para as figuras centrais interpretadas brilhantemente por Olívia Torres e Ana Flavia Cavalcanti. Mesmo sem muita interação, as duas conseguem carregar o restante dos também bons colegas de trabalho em cenas bastante envolventes, embora alguns personagens secundários demonstrem maneirismos físicos típicos de personagens que estão afetados de alguma forma, com tremores nos ombros e tiques no pescoço.
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Mas todos esses elementos são deixados um pouco de lado quando o filme entra em sua segunda metade e mergulha de vez no horror. A cena do “acerto de contas” entre Amanda e a dos moradores da cidade oferece o que o público mais assíduo do gênero, como eu, estava esperando. Tudo funciona na cena e a mistura do horror com a tensão sexual presente nos personagens naquele momento são o ponto alto do filme, que ainda se desenrola para um desfecho também repleto de terror e sangue bem dosados com as reviravoltas que os momentos finais apresentam.
Acrescentar o ‘social’ em um filme de terror não é sinal de qualidade, como se o gênero fosse algo menor se não contasse com essa camada crítica. E ser expositivo demais pode ser um artifício para tentar dizer que ESSE filme de terror vale a pena, mais uma vez diminuindo o gênero.
Continente pode ser um marco na linguagem explícita do horror que o cinema brasileiro vem explorando. Por mais que sua narrativa e atmosfera sejam constantemente interrompidas para nos lembrar de que o filme tem uma crítica social por trás (que é, na verdade, bem evidente), os elementos de terror compensam, entregando até mesmo uma belíssima chuva de sangue pouco antes do mergulho na verdadeira natureza dos personagens de sua história.