ENTREVISTA: Leo Tabosa, diretor de Gravidade

49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
33º Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade

Em Gravidade (2025), primeiro longa-metragem do diretor Leo Tabosa, às vésperas do fim do mundo, Sydia (Clarisse Abujamra) e sua filha Nina (Hermila Guedes) se veem presas em uma noite interminável dentro da antiga mansão da família. Enquanto o isolamento acirra os conflitos entre mãe e filha, a chegada inesperada da misteriosa Lara (Danny Barbosa) desperta tensões.

Em conversa com o diretor, ele fala sobre a temática em comum de seus filmes, as diferenças na hora de fazer um curta e um longa-metragem, sua relação com o cinema de gênero e como foi o trabalho de fotografia e elenco em Gravidade.

Veja a entrevista completa em vídeo:

Rejeito: Diretor Pedro de Filippis e a sensibilidade em documentário sobre crimes de Mariana e Brumadinho

Misturar sensibilidade e denúncia pode ser uma tarefa muito difícil, com o risco de se cair em uma abordagem sensacionalista. “Rejeito” (2023), documentário de Pedro de Filippis, entrega esse conjunto de forma muito delicada e cuidadosa, no melhor dos sentidos.

Conversei com o diretor sobre sua relação com o tema, as escolhas na abordagem escolhida e o olhar sensível na hora de produzir um documentário com imagens tão marcantes e uma história tão pesada.

O filme Rejeito chega aos cinemas de todo o Brasil no dia 30 de outubro, às vésperas do desastre da Barragem de Mariana, em Minas Gerais, completar 10 anos. O documentário é um retrato profundo sobre o impacto da mineração na vida de comunidades atingidas e um convite à reflexão sobre o modelo de exploração que marca nosso país.

Atena (2023)

Impossível não associar a protagonista de Atena, vivida por Mel Lisboa no longa que acabou de chegar aos cinemas nacionais, à Lisbeth Salander, da série de filmes inspirada na saga literária de Stieg Larsson. No longa brasileiro dirigido por Caco Souza e escrito por Enrico Peccin, a personagem principal faz justiça com as próprias mãos, motivada por violências que sofreu no passado. Parece um exemplo básico da cartilha de como não construir personagens femininas, mas o filme não para por aí.

Escrito e dirigido por homens, o longa erra na abordagem da violência contra mulheres. Duas cenas envolvendo esse tipo de agressão são apresentadas de maneira brutal já nos primeiros 30 minutos. Logo após uma delas, vemos a protagonista em um momento reflexivo no banheiro, vestindo uma regata branca e calcinha, em um enquadramento que destoa do tom de denúncia.

Atena funciona como uma grande campanha informativa sobre violência contra a mulher. O que, em certa medida, é positivo, já que parece ser essa a intenção. Mas, em muitas outras, o filme soa apenas como um apanhado das falas mais conhecidas sobre o tema. Uma personagem relata ter acreditado que o namorado mudaria após um pedido de desculpas por uma agressão; logo depois, outro diálogo entra em uma nova pauta importante, abordando uma longa história de pedofilia. A falta de sutileza no tratamento desses temas enfraquece um roteiro que parece querer, de algum modo, dar conta da complexidade dessas experiências.

Mel Lisboa se entrega bem ao papel e alguns momentos do roteiro funcionam bem, como quando tenta marcar as violências cotidianas vividas por mulheres. Em uma cena, a protagonista finge interesse por uma academia e é assediada de alguma forma desde sua chegada até a saída. Em meio a tantos outros problemas, fico me perguntando se esse momento realmente causou intencionalmente esse incômodo.

Ao atrelar a violência grave apenas aos personagens mais abertamente perversos, o filme comete seu erro mais grave: anula o potencial de violência de outros homens, como se esse tipo de maldade estivesse distante do cotidiano, e não fosse parte de algo que atinge mulheres todos os dias.

Oeste Outra Vez (2024)

48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Oeste Outra Vez finalmente chega aos cinemas nacionais trazendo um faroeste brasileiro baseado na masculinidade exagerada.

No filme, no sertão de Goiás, homens brutos que não conseguem lidar com suas fragilidades são constantemente abandonados pelas mulheres que amam. Tristes e amargurados, eles se voltam violentamente uns contra os outros.

Confira a crítica em vídeo:

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Câncer com Ascendente em Virgem (2024)

48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

É muito bonito ver a equipe de um filme tão envolvida e engajada em seu trabalho, levando realmente a sério a ideia de que o cinema é uma arte coletiva e compartilhada. Esse definitivamente é o caso de Câncer com Ascendente em Virgem.

No filme, acompanhamos Clara (Suzana Pires), uma professora que, após receber o diagnóstico de câncer de mama, começa a ver sua vida e suas relações sob uma nova perspectiva, sempre apoiada pela mãe, Leda (Marieta Severo), e pela filha Alice (Nathália Costa). O longa é dirigido por Rosane Svartman (Desenrola, Como Ser Solteiro) e é baseado na história da produtora Clélia Bessa, que durante o tratamento que a curou de um câncer de mama em 2008, lançou o blog “Estou com Câncer, e Daí?”, que posteriormente foi transformado em livro. O roteiro é assinado por Suzana Pires, em parceria com Martha Mendonça e Pedro Reinato, e conta com a colaboração de Ana Michelle, Rosane Svartman e Elisa Bessa, filha de Clélia.

Desde a apresentação dos patrocinadores e instituições parceiras, o filme não sente vergonha de assumir o papel de uma espécie de campanha de prevenção ao câncer de mama. Seus primeiros minutos se transformam num manual desse cuidado, passando pela descoberta do tumor, uma segunda, terceira e outras opiniões sobre o caso, até o conselho de que Clara deve aproveitar bem a vida antes de começar a quimioterapia.

O tom varia entre o drama e a comédia na defesa de uma leveza para o filme, mas acaba caindo em alguns clichês e estranhezas quando piadas se perdem no meio de uma trilha sonora pesada, que é boa, mas tira o efeito de momentos engraçados, como quando Clara menciona que o pensamento de que sua filha teria que ser cuidada somente pelo ex foi o suficiente para motivá-la contra o câncer. A trilha, aliás, é original e assinada por Flavia Tygel, contando ainda com uma canção interpretada por Preta Gil, que teve sua história com o câncer muito comentada nos últimos anos.

Ainda nas repetições narrativas, o texto não poupa momentos e frases motivacionais. Algumas frases chegam a soar didáticas e não muito verossímeis dentro dos diálogos, apelando de forma fácil para a emoção quando questiona termos como “perder a batalha para o câncer” e usando frases de consolo como “essa dor que você está sentindo é do tamanho do amor que você sente por ela”.

O roteiro acerta ao complexificar sua protagonista, somando questões para além de sua saúde. Os fatores de ser mulher, mãe, divorciada e uma professora que cria videoaulas para internet são amarrados de forma muito orgânica na narrativa e usados de maneira equilibrada, nada é aleatório e todas as questões se amarram. Outro acerto é a abordagem do tema geracional presente na relação familiar das três mulheres principais do longa. A intimidade entre Clara, Alice e Leda salva, por exemplo, uma clássica cena dos filmes com a mesma temática, com a protagonista raspando a cabeça, de cair num grande clichê. A cena comove muito também por conta do elenco. O filme também faz questão de jogar fora qualquer ideia de rivalidade feminina, colocando Ju (Julia Konrad), a atual do ex, também em um papel de apoio para a protagonista.

O elenco pode ser considerado o ponto alto do longa. Suzana Pires está completamente envolvida e entregue ao seu papel, expressando emoção para além da personagem nas cenas mais exigentes. O auge disso é a bonita cena da praia, em que a personagem mergulha no mar acompanhada de suas parceiras de vida naquele momento. Marieta Severo segura com seu incontestável talento uma personagem que demora para engrenar e fica presa na piada repetitiva de apostar em várias crenças religiosas para apoiar a filha. Além delas, o filme também conta com a jovem e ótima Nathália Costa, o talento já conhecido de Julia Konrad e Ângelo Paes Leme.

Fabiana Karla e Carla Cristina Cardoso (também ótimas) interpretam as amigas da protagonista. Enquanto a primeira é uma vendedora que tem seus laços intensificados com Clara após revelar que também vive com câncer, caminhando para um lugar bastante previsível dentro da história, a segunda assume o papel de melhor amiga, o que me faz questionar um ponto mais delicado do longa. Há uma clara preocupação em colocar atores negros ao redor da protagonista do longa, mas todos aparecem sem muita profundidade ou outras camadas, ao contrário de todos dos papeis de todos os outros membros brancos do elenco principal. Enquanto Paula, personagem de Carla, é a amiga negra que representa todas as amigas ao redor da protagonista da história real, temos atores negros interpretando médicos e até uma transa casual da personagem principal. A impressão, infelizmente, é de que essas pessoas estão ali para garantir a diversidade visual do elenco.

Já na reta final, Câncer com Ascendente em Virgem segue caminhos mais tradicionais para tramas do gênero. Vemos a protagonista exausta, tendo seu cansaço disfarçado por filtros de aplicativos para celular em uma ótima sacada da história, mas com uma exposição também fácil quando chega ao auge desse sentimento durante uma live que a personagem faz com o humorista Yuri Marçal.

Cheio de boas intenções bem fundamentadas e que cumprem seu papel, o filme termina com um ar de “filme para toda família”, o que é ótimo, mas o limita em grandes inovações que a história poderia proporcionar. Mas essa é a proposta do longa e está tudo certo. A sensação de que o trabalho cuidadoso foi feito com uma extrema parceria da equipe, como mencionei no começo do texto, é, com razão, um dos fatores mais emocionante dessa bonita história.

O Melhor Amigo (2024)

A cena inicial de O Melhor Amigo, novo longa de Allan Deberton (Pacarrete), apresenta uma situação embaraçosa o suficiente para criar certa conexão com o protagonista Lucas (Vinicius Teixeira). O carro de som constrangedor enviado pelo namorado de Lucas, porém, não é suficiente para que essa conexão se mantenha com o personagem principal pelo restante da história.

Lucas abandona o namorado e deixa para trás sua vida na cidade grande, partindo para férias em Canoa Quebrada, onde reencontra o moreno alto, bonito e sensual Felipe (Gabriel Fuentes), seu amigo de infância. Quando antigos desejos despertam, Lucas se perde nas noites quentes e musicais do lugar em busca de Felipe, que parece cada vez mais distante.

Só o fato de se propor a ser um musical brasileiro centrado em uma trama gay, a produção já soma muitos pontos. Apesar da primeira música demorar a aparecer e de todos esses momentos cantados não serem exatamente pontos de grande movimento para a trama, suas construções são divertidas e a escolha de canções populares como Amante Profissional ajuda na animação que o longa quer proporcionar. Acho o momento musical de Escrito nas Estrelas extremamente bonito, aliás.

Com muitos corpos à mostra e tensão sexual no ar a todo momento, o filme surpreende ao ser um tanto envergonhado, nunca indo a fundo para explorar essa dimensão. O protagonista navega pelo aplicativo de pegação e as imagens de nudes são mostradas de forma desfocada de maneira amadora, então não seria melhor mostrar apenas a conversa? Lucas também se aventura como marmita de casal em uma cena que é cortada imediatamente após a primeira troca de beijos. Parece que qualquer possibilidade de explorar a sexualidade de maneira mais intensa é podada.

Ainda dentro da temática queer, as situações em que Lucas se coloca como homem gay são bastante reais e fáceis de identificar (de um jeito positivo), o longa se destaca especialmente quando coloca o protagonista imerso em comunidade onde recebe força e apoio. As cenas protagonizadas pelo grupo de drag queens e mulheres trans que acompanham Lucas são os momentos mais emocionantes do longa. Destaco especialmente a bela cena no beco, onde o protagonista conversa com a drag Deydianne Piaf, do ótimo Denis Lacerda – talvez o ponto que mais tenha me marcado no filme.

As soluções fáceis da primeira metade do roteiro, como um empurrão forçado para que Lucas cante constrangedoramente no karaokê, se transformam em uma sucessão de situações jogadas que deixam a segunda parte mais bagunçada. Os desfechos são mal construídos e fazem parecer que o longa não está tão preocupado em manter uma coesão narrativa, mas sim em outros momentos marcantes e/ou divertidos durante seus 96 minutos de duração.

O protagonista também não ajuda muito, a falta de artifícios para que se crie empatia com ele é tanta que eu chego a questionar se ele realmente gosta do namorado apesar de constantemente repetir que sim. E achei bem difícil comprar a questão de como o personagem lida com a temática corporal. O filme parece tentar evitar a gordofobia, mas acaba caindo nela ao limitar o comentário de Lucas sobre o tema a uma única fala e ao resolver de maneira rasa a relação de Martin (Léo Bahia), namorado do protagonista, com os outros personagens. Não sei se algo pode ter sido cortado ou se realmente há uma falta de aprofundamento do assunto.

De qualquer modo, O Melhor Amigo cria um ótimo respiro para produções LGBTQIA+ brasileiras, apontando para possibilidades de narrativas pouco exploradas. A participação de nomes como Claudia Ohana, Gretchen e Mateus Carrieri reforçam o comprometimento do longa com a cultura popular, assim como o fato de se passar fora do sul ou sudeste brasileiro. Espero, de verdade, que o longa de Deberton vire referência de cinema queer para o que está por vir daqui pra frente no Brasil.

Uma Advogada Brilhante (2025)

Juro que entrei na sessão de Uma Advogada Brilhante, novo filme de Ale McHaddo, estrelado por Leandro Hassum, com um pouco de boa fé para uma história que não entregasse o que praticamente promete num pôster e num trailer problemático. O longa chegou aos cinemas brasileiros no último dia 6 de março e talvez eu tenha cometido um erro ao entrar na sala de cinema com o mínimo de positividade para o que estava por vir.

No filme, Dr. Michelle, um advogado recém-divorciado, decide se disfarçar como mulher para não perder seu emprego durante uma reestruturação e conseguir a guarda de seu filho. Porém, viver como Dra. Michele se revela mais desafiador do que esperado.

Mas não vou me culpar, mudei meu pensamento positivo de forma rápida. Logo no começo do filme, Danilo Gentili interpretando um personagem chamado Daniel Gentil já foi sinal vermelho suficiente. A partir daí, a sucessão de piadas questionáveis (para dizer o mínimo) é crescente.

O humor tenta surgir de trocadilhos com o nome de Pabllo Vittar, do supostamente hilário nome “Mamma Minha” para uma pizzaria italiana, de associações maldosas com cemitério indígena e até da ideia de que alguém pesa muito por comer muita pizza. Juro que o nome “Power Guido” é citado. E há ainda piadas com berinjela e com uma linguiça cortada na cozinha do restaurante. Essas duas últimas, aliás, conversam com uma questão crucial da história do longa.

Com a trama centrada em um personagem homem cis que passa a se vestir e portar como é esperado socialmente de uma mulher, a chance de se esbarrar em transfobia é imensa. Piadas usando “nome morto” (termo que se refere ao nome que uma pessoa trans usava antes da transição) e tirando sarro de pronome neutro são feitas sem pensar duas vezes. Para “amenizar” essas situações ou se defender antecipadamente, o longa ainda usa uma personagem trans como irmã do protagonista o reprimindo em alguns momentos. Poderia ser um ponto positivo caso não parecesse estar lá apenas para dar o aval do roteiro fazer piadas com um homem vestido de mulher. Em 2025.

Michelle prova roupas femininas ao som de As Frenéticas cantando “eu sei que eu sou bonita e gostosa”, numa tentativa preguiçosa e problemática de arrancar risadas. Há uma tentativa de crítica. O personagem de Hassum passa a aprender as dificuldades de ser uma mulher ao se passar por uma, mas a crítica fica rapidamente datada quando um dos maiores problemas que ele enfrenta é ser interrompido por outros homens. Tudo é muito raso, e as piadas, que muitas vezes parecem atacar qualquer tentativa de crítica social, acabam diminuindo qualquer discussão ou pauta séria.

Além disso, o roteiro assinado pela própria Ale McHaddo, por Luiz Felipe Mazzoni e Cristiane Wersom, não se segura no sentido de estrutura e verossimilhança. O julgamento de guarda de uma criança é feito nos moldes de um tribunal americano, um romance aparece no meio do filme levando a mais piadas comprometedoras envolvendo Michelle se interessando por outra mulher enquanto está vestido de mulher e outros personagens mudam de comportamento sem qualquer justificativa. A trama principal se encerra antes da meia hora final do filme, quando a história se torna outra.

Obviamente, todos os erros do protagonista e de seus colegas são justificados em prol de manter uma família unida. E se a ideia é referenciar e/ou homenagear clássicos da Sessão da Tarde como Uma Babá Quase Perfeita ou Tootsie, vale lembrar que esses filmes foram lançados há mais de 30 anos.

NOTA: 0,5/5

Baby (2024)

48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Vencedor do prêmio de ator em ascensão para Ricardo Teodoro na Semana da Crítica do Festival de Cannes

Depois de sucesso em festivais ao redor do mundo, Baby, novo filme do diretor Marcelo Caetano (Corpo Elétrico) chega aos cinemas do Brasil.

No filme, após ser liberado de um centro juvenil, Wellington (João Pedro Mariano) se vê sem teto em São Paulo. Em um cinema pornô, ele conhece Ronaldo (Ricardo Teodoro), que o ensina a sobreviver nas ruas. O vínculo entre eles se transforma em um caso turbulento.

O filme se destaca ao mostrar com sensibilidade a relação de seus complexos personagens na São Paulo dos marginalizados.

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O Auto da Compadecida 2 (2024)

Quando o trailer de O Auto da Compadecida 2 chegou há alguns meses, a suspeita levantada não foi das melhores. A produção, toda feita em estúdio, e a repetição de alguns elementos marcantes do primeiro filme levantaram de imediato questões sobre a originalidade da sequência de um dos títulos mais icônicos do cinema brasileiro.

A trama se inicia 20 anos depois da história que já se conhece. Agora, João Grilo (Matheus Nachtergaele) retorna à Taperoá para se juntar ao velho companheiro Chicó (Selton Mello) e, após sua história de ressurreição ter se espalhado, é disputado como cabo eleitoral por dois poderosos políticos na cidade.

De fato, o estúdio, o CGI e as maquetes estão muito presentes no novo filme, mas sua utilização pode ser encarada como certo olhar fantástico numa artificialidade que dispara bonitos momentos na vida de personagens tão marcantes na cultura nacional. Mas novas caras formam um time de peso na sequência. Fabíula Nascimento, Humberto Martins, Luís Miranda, Taís Araújo e Eduardo Sterblitch são apostas certeiras de rostos carismáticos e talentosos.

Fica difícil, entretanto, não questionar  a maioria branca e sudestina em uma história que representa tão intensamente uma cultura regional do Brasil. Por mais talentosos que sejam, é bastante complicado encarar, por exemplo, os sotaques falsos que tanto são questionados até hoje por estarem presentes em nossas telenovelas.

Falando em talento, a dupla de protagonistas segue sendo destaque nesse novo filme. Selton Mello está mais contido e consegue adaptar o tempo passado entre as duas narrativas para como ele afeta seu personagem de maneira muito cuidadosa. Matheus Nachtergaele é tão talentoso que não chega necessariamente a surpreender, mas ganha ainda mais espaço para fazer seu João Grilo brilhar em tela. Apesar do roteiro se apoiar bastante nos trejeitos já conhecidos do personagem, Matheus tem a possibilidade de demonstrar sua versatilidade em cenas como a revisita ao clássico momento do purgatório, que funciona quase como uma homenagem a uma das cenas mais marcantes do cinema nacional. E aproveitando as menções para o sucesso do original, destaco também a sempre excelente Virginia Cavendish, como uma Rosinha agora mais independente e com mais motivações.

A direção de Guel Arraes e Flávia Lacerda é divertida, brinca com profundidade e foco em diversos momentos. Ao lado de João Falcão e Adriana Falcão, Guel assume o roteiro, que chegou a ser conversado com Ariano Suassuna em etapas iniciais e foi aprovado pela família do escritor. O salto temporal é usado para encher a trama de elementos baseados nas mudanças da vida dos personagens e traz uma boa, mas não muito profunda (o que também não seria a intenção) discussão sobre polarização política, tecnologia e manipulação dos meios de comunicação. O foco nessa temática e no resgate nostálgico acaba sendo atrapalhado por inserções publicitárias mal colocadas e uma fraca resolução para os diversos e carismáticos personagens secundários.

Brincando com o próprio fato de ser uma continuação, O Auto da Compadecida 2 chega em um bom momento, aproveitando o espaço que grandes estreias nacionais costumam ter nessa época do ano. E apesar dos atropelos e repetições já citadas do roteiro, o sucesso, sem dúvidas, é certo.

NOTA: 3/5

Ainda Estou Aqui (2024)

48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Vencedor do prêmio de melhor roteiro no Festival de Veneza pelo trabalho da dupla Murilo Hauser, Heitor Lorega

Finalmente! O filme brasileiro Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, chega aos cinemas nacionais! O longa é estrelado por Selton Mello e Fernanda Torres, que ganha cada vez mais força nas especulações de uma possível indicação para a categoria de Melhor Atriz no Oscar, um dos maiores prêmios do cinema mundial. Caso isso aconteça, a atriz repetirá o feito de sua mãe, Fernanda Montenegro, que também está no filme e concorreu na premiação por seu trabalho em “Central do Brasil” (1998).

Ainda Estou Aqui se passa no Rio de Janeiro, no início dos anos 1970, quando o país enfrenta o endurecimento da ditadura militar. Estamos no centro de uma família, os Paiva: um pai, Rubens, uma mãe, Eunice, e os cinco filhos. Vivem na frente da praia, numa casa de portas abertas para os amigos. O afeto e o humor que compartilham entre si são suas formas sutis de resistência à opressão que paira sobre o Brasil. Um dia, eles sofrem um ato violento e arbitrário que vai mudar para sempre sua história. Eunice é obrigada a se reinventar e a traçar um novo destino para si e os filhos. Baseada no livro biográfico de Marcelo Rubens Paiva, a história emocionante dessa família ajudou a redefinir a história do país.

Confira a crítica em vídeo:

Ansioso para assistir a esse filme nos cinemas? Conta pra mim suas expectativas e o que está esperando do novo longa.