Ladrões (2025)

Após a sessão da cabine de imprensa de Ladrões (Caught Stealing), novo filme de Darren Aronofsky, perguntei genuinamente para os colegas da crítica qual havia sido o filme anterior do diretor. Eu tinha apagado o Oscar winner A  Baleia (The Whale, 2022) da cabeça, apesar do diretor ser também o responsável por dois filmes pelos quais tenho muito carinho: Cisne Negro (Black Swan, 2010) e Mãe! (Mother!, 2017). Gosto até da direção do moralista Réquiem para um Sonho (Requiem for a Dream, 2000), mas fato é que Ladrões se distancia bastante desses quatro filmes citados, deixando a marca autoral do diretor um pouco de lado, como acontece em Noé (Noah, 2014), por exemplo.

O longa é carregado de uma atmosfera presente em filmes de sábado à noite do saudoso Supercine. E digo isso como um verdadeiro elogio. A ambientação nos anos 90, que passa por festas exageradas, crianças brincando na rua, secretária eletrônica, os primeiros celulares e trilha sonora com músicas de Madonna e Meredith Brooks, faz com que não só essa recriação chame atenção, mas também o fato de que o filme poderia, facilmente, ter sido feito nos anos 90.

O roteiro assinado por Charlie Huston, que também é autor da série de livros que inspirou o longa, nos apresenta o carismático e ex-promessa do beisebol Hank Thompson (Austin Butler), o protagonista de coração bom que, ao precisar cuidar do gato de estimação do amigo e vizinho que viajou, se envolve quase que por acidente em uma perseguição criminosa no submundo de Nova Iorque. A trama de comédia de erros diverte, mas não garante que a história já não comece a cair no esquecimento poucos dias depois do filme ser assistido.

Há certa inocência (até que bonita) na tentativa acertada de fazer o público se interessar tanto pelo protagonista vivido por Austin Butler. Ele tem uma ótima relação com a namorada Yvonne (Zoë Kravitz), trata bem o felino do vizinho que o deixou na enrascada que acompanhamos no filme e telefona recorrentemente para a mãe, para quem manda dinheiro sempre que dá e com quem tem conversas animadas sobre o campeonato de beisebol.

A quantidade excessiva de referências ao esporte tipicamente americano, aliás, pode distanciar o público de um vínculo mais forte com o filme. O próprio título original do longa faz referência a uma jogada de beisebol que se perde totalmente no nome brasileiro, que nem faz tanto sentido, uma vez que os crimes nos quais os personagens se envolvem não estão diretamente relacionados com roubo.

Apesar da trama pouco elaborada e esquecível, Ladrões ganha pontos em cenas de ação bem dirigidas e bem filmadas, com destaque para uma ótima batida de carro. E além de Butler e Kravitz, que apresentam uma excelente química e atuações respeitáveis, o restante do elenco, com nomes como Regina King, Matt Smith e o cantor Bad Bunny, dá uma dose de carisma tão alta para a produção que quase fazem com que os problemas do filme sejam esquecidos. Tá, isso é mentira, mas todo mundo tá muito bem.

Com um encerramento que abrange uma representação extremamente caricata de Tulum e a participação especial inesperada de uma atriz muito querida por gays, Aronofsky faz com que Ladrões, apesar de seus momentos divertidos, se pareça com um filme feito por encomenda e editado por ordens de estúdio. Uma condição para que ele possa fazer mais um filme polêmico e problemático depois? Sei lá. Mas essa leveza e nostalgia podem ser um respiro interessante na carreira do diretor.

Ah, e usem cinto de segurança, por favor.