48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo Vencedor do prêmio de ator em ascensão para Ricardo Teodoro na Semana da Crítica do Festival de Cannes
Depois de sucesso em festivais ao redor do mundo, Baby, novo filme do diretor Marcelo Caetano (Corpo Elétrico) chega aos cinemas do Brasil.
No filme, após ser liberado de um centro juvenil, Wellington (João Pedro Mariano) se vê sem teto em São Paulo. Em um cinema pornô, ele conhece Ronaldo (Ricardo Teodoro), que o ensina a sobreviver nas ruas. O vínculo entre eles se transforma em um caso turbulento.
O filme se destaca ao mostrar com sensibilidade a relação de seus complexos personagens na São Paulo dos marginalizados.
Confira a crítica em vídeo:
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Desde o início, o novo filme de Davi Pretto apresenta a pele de seus personagens. Bem de perto, em seus detalhes, sendo tocadas por outra pessoa. Esse fator ajuda bastante quando, em sua segunda metade, Continente assume seu legado como cinema de gênero brasileiro e apresenta uma cena de terror que exala tesão.
O novo filme do diretor de Rifle (2016)mostra o retorno de Amanda para sua casa, que volta acompanhada do namorado, depois de 15 anos no exterior. Eles chegam na enorme fazenda da família da jovem, localizada em um vilarejo isolado nas intermináveis planícies do sul do Brasil. Lá, Amanda encontra o pai em coma e uma tensão cada vez maior entre os trabalhadores da propriedade. A única médica das redondezas é Helô, uma mulher que renuncia a si mesma para tratar dos habitantes da cidadezinha. A iminente morte do fazendeiro coloca Amanda, Martin e Helô no centro de um perturbador acordo com a população da vila.
Os personagens são apresentados sem se contar muito sobre o passado da relação deles, descobrir aos poucos é um dos elementos que ajudam na criação de uma atmosfera bastante carregada e sombria: algo ruim sempre parece estar no ar.
O caráter expositivo do roteiro, entretanto, se torna um problema para acompanhar o longa em sua primeira metade. Os personagens reproduzem frases que remetem o tempo todo aos temas do filme, praticamente deixando o ‘sub’ do subtexto de lado Para falar de exploração do trabalho e escravisão moderna, os diálogos incluem falas como “vou mostrar para o povo que é possível viver de um jeito diferente” e “você não pode dizer o que é melhor para eles”, que desconectam o espectador da trama intrigante que o longa apresenta para sua mensagem central.
Um dos motivos que não deixa o filme cair no terror social fácil é o elenco. A quantidade de personagens não é pequena e os peões centrais dessa história estão em boas mãos, com destaque para as figuras centrais interpretadas brilhantemente por Olívia Torres e Ana Flavia Cavalcanti. Mesmo sem muita interação, as duas conseguem carregar o restante dos também bons colegas de trabalho em cenas bastante envolventes, embora alguns personagens secundários demonstrem maneirismos físicos típicos de personagens que estão afetados de alguma forma, com tremores nos ombros e tiques no pescoço.
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Mas todos esses elementos são deixados um pouco de lado quando o filme entra em sua segunda metade e mergulha de vez no horror. A cena do “acerto de contas” entre Amanda e a dos moradores da cidade oferece o que o público mais assíduo do gênero, como eu, estava esperando. Tudo funciona na cena e a mistura do horror com a tensão sexual presente nos personagens naquele momento são o ponto alto do filme, que ainda se desenrola para um desfecho também repleto de terror e sangue bem dosados com as reviravoltas que os momentos finais apresentam.
Acrescentar o ‘social’ em um filme de terror não é sinal de qualidade, como se o gênero fosse algo menor se não contasse com essa camada crítica. E ser expositivo demais pode ser um artifício para tentar dizer que ESSE filme de terror vale a pena, mais uma vez diminuindo o gênero.
Continente pode ser um marco na linguagem explícita do horror que o cinema brasileiro vem explorando. Por mais que sua narrativa e atmosfera sejam constantemente interrompidas para nos lembrar de que o filme tem uma crítica social por trás (que é, na verdade, bem evidente), os elementos de terror compensam, entregando até mesmo uma belíssima chuva de sangue pouco antes do mergulho na verdadeira natureza dos personagens de sua história.