48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Exibido no Festival de Berlim
Na tentativa de fuga de um documentário denso sobre ascensão fascista nos dias atuais, o diretor Travis Wilkerson acerta ao mesclar duros fatos sobre o neonazismo na Croácia com o carismático personagem do detetive Ivan Peric, que com muitas dificuldades investiga o assassinato de turistas na cidade de Split. Esse trabalho se torna complicado uma vez que os visitantes não são exatamente bem vistos no país.
O formato híbrido e a alternância de tons de O Vento Sopra Através dos Túmulos (Through the Graves the Wind Is Blowing) fazem com que humor trazido pela figura caricata do detetive amenize as histórias pesadas que o documentarista traz enquanto nos mostra, sempre em preto e branco, grandiosas estruturas abandonadas pela cidade, passando por shoppings e construções olímpicas, todas pichadas com símbolos nazistas.
Nessas paisagens, Wilkerson fala sobre a queda da Iugoslávia e reflete sobre a perseguição a antifascistas enquanto exibe imagens de uma árvore torta no meio desses monumentos largados. Essa escolha de imagens é muito bem executada e, embora se torne repetitiva e até cansativa, embasa bem o peso dos relatos que o diretor traz em seu texto.

Quebrando essa repetição em um dos momentos mais marcantes do filme, Travis, que morou por anos com a família na Croácia e produziu o documentário perto do fim desse período, fala sobre a dificuldade de representar visualmente algumas passagens históricas. Ele escolhe usar o som do mar em movimento misturado ao barulho de tiros enquanto figuras vermelhas se sobrepõem na tela. O efeito é hipnotizante e de forma inusitada remete aos também mesmerizantes vídeos de TikTok em que uma pessoa narra uma história enquanto as imagens mostradas não necessariamente tem a ver com o que está sendo contado.
Em outro momento que chama atenção, Wilkerson propõe um experimento ao questionar se o público já se perguntou quantos de seus vizinhos são nazistas. Ele provoca ao refletir se já não seria muita coisa se a resposta para a pergunta fosse “apenas um”. O diretor então sai pelas ruas e fotografa os símbolos nazistas que estão em paredes e postes, encontrando mais de 200 marcas em cerca de meia hora de caminhada.

Na busca de mais impacto, entretanto, algumas dessas cenas acabam soando muito “montadas”, por mais que estejam bem colocadas dentro da narrativa. O diretor leva seus filhos para visitar um memorial de um dos maiores campos de concentração construídos por não-nazistas da Europa. Com o argumento de que as crianças sentem uma culpa ancestral por conta de antepassados preconceituosos que prejudicaram grupos minorizados, ele afirma que elas ficam desconfortáveis enquanto reforça que, para algumas pessoas do país, aquele ambiente é um motivo de orgulho, não de vergonha. Em seguida, ele leva os filhos para se divertirem em um parque, onde eles se distraem com um brinquedo marcado com símbolos nazistas.
Essas situações me remetem a uma culpa da elite branca de esquerda que parece querer provar o tempo inteiro o quanto é progressista apesar de seus privilégios oriundos de um passado familiar problemático.
O Vento Sopra Através dos Túmulos ganha muitos pontos mais pela experimentação do formato do que pela ideia em si. O discurso é muito direcionado para um público que já concorda com o ponto de vista do diretor. Nenhum problema nisso, claro, mas em alguns pontos fica parecendo muito mais por uma busca pelo choque que informações mais específicas sobre a temática podem trazer para esse espectador.
NOTA: 3,5/5

























