Como eu sempre digo, uma pessoa com o rosto jorrando sangue em cima de uma criança é sempre uma boa maneira de começar um filme. A cena inicial, então, começa bem a nova produção assinada por Carter Smith pela Blumhouse. Em 2022, o diretor nos entregou o angustiante E EXTREMAMENTE GAY Engolidos (Swallowed), então expectativas já estavam estabelecidas antes de assistir.
Carona Aterrorizante (The Passenger) acabou de ficar disponível no Paramount+ e escolhe um caminho de violência mais brutal e escancarada, fugindo das ânsias de vômito que seu projeto anterior insistia em causar (e falo isso de uma forma muito positiva para Swallowed, juro).

Aqui os personagens também são completamente horrorosos desde que o conhecemos, com a exceção do protagonista Randy Bradley, interpretado por Johnny Berchtold. Quem diria que trabalhar numa lanchonete chamada Burgers Burgers Burgers em uma cidade de 10 mil habitantes não seria o emprego dos sonhos?
Frustrado e humilhado por seu chefe e colegas de trabalho, o introspectivo Randy tem sua vida movimentada quando Benson, interpretado por Kyle Gallner, decide ajudá-lo acabando com a vida de todos os funcionários presentes na lanchonete naquele momento. Grande ajuda, Benson, obrigado! A partir daí, os dois andam de carro pela cidade em um road movie maligno enquanto Benson acredita estar fazendo um favor ao tirar Randy de sua vida monótona.
Enquanto o personagem de Kyle Gallner (conhecido por marcantes papéis secundários em filmes de terror como Garota Infernal, Sorria e Pânico 5 (neste último marcado por uma péssima cena)) se revela para seu colega e adquire um casaco felpudo que certamente afetaria minha alergia, o roteiro parece tentar nos fazer refletir sobre a “bondade” de Benson ao livrar Randy de pessoas horrorosas em contraponto a sua visão reacionária que cresce a cada cena. Tudo isso passando por uma crítica aos empregos precarizados e a falta de esperança na vida de uma cidade pequena abandonada.

O tom segue como um bom filme do SuperCine e as viradas mantêm o ritmo agitado, apesar da premissa não prometer uma grande fuga de certos cenários ou situações. Mas esse clima também é frequentemente quebrado pela distração causada pelas atuações dos protagonistas, que acabam se atrapalhando. Enquanto Kyle apresenta um personagem cada vez mais surtado, Berchtold mantém uma interpretação contida que o personagem até pede, mas que o ator vacila na hora de entregar.
Outros pontos positivos são os efeitos visuais práticos, especialmente na cena da agressão no estacionamento, em que a boca ferida de um dos personagens causa uma aflição realista. E também a participação de Liza Weil (Gilmore Girls, How to Get Away With Murder), que entra em cena em um momento que acaba remetendo a séries de dez ou mais anos atrás, justamente das quais a atriz costumava participar. Sua personagem, aliás, é um importante contraponto para a já citada falta de esperança que é estabelecida como um traço marcante na cidade.
O final pesa para o apelo sentimental sem muito sucesso, especialmente com a trilha sonora gritante. O diálogo também enfraquece. Em uma exposição exagerada, o protagonista explica seu jeito a partir dos próprios traumas. Ele literalmente cita cenas iniciais do filme para explicar como o trauma do passado se relaciona com seu comportamento, é um didatismo exagerado de seus traumas. Mas confesso que os personagens chorando banhados por luzes avermelhadas e azuladas piscando enquanto dizem suas últimas falas me pegou um pouco, foi bom.

E apesar de não tão explícita, uma leitura queer se torna possível para além de um cara mais velho obcecado por um twink de 21 anos. Todos os ensinamentos e frustrações de Benson passam por situações infelizes de seu passado, isso fica muito claro na já citada cena do estacionamento, em que o personagem ataca um de seus antigos professores da escola e o motivo não é completamente dado. “Você é mais do que essa vida que você leva” ou algo do tipo é dito por Benson para Randy ainda nos momentos iniciais da trama. É isso que ele quer conquistar para seu novinho colega, mesmo que não meça muito bem suas atitudes para isso.
Carona Aterrorizante dificilmente vai superar ou sequer ocupar o mesmo espaço que o longa anterior de Carter Smith tem em minha memória, mas assim como Engolidos, esse filme também já cresce na minha cabeça pouquíssimo tempo depois de assistido, felizmente.
NOTA: 3,5/5


