A Garota da Vez (2024)

No último mês, três filmes com olhares muito específicos sobre suas protagonistas femininas trouxeram cenas parecidas e que há muito tempo vemos no cinema: homens pedindo para mulheres sorrirem mais. A Substância (2024), Pisque Duas Vezes (2024) e, agora, A Garota da Vez (Woman of the Hour) me fazem pensar na frase que até virou um quadro nas redes sociais da excelente Natalia Malini, do Boca do Inferno: o terror na verdade é ser mulher.

Estreia na direção da ótima atriz e super carismática Anna Kendrick, A Garota da Vez parte de uma história real para comentar a violência enfrentada por mulheres e a aliança que elas podem formar a partir de e para se defender disso. Em 1970, Cheryl Bradshaw (interpretada por Kendrick), em busca de uma oportunidade como atriz, participa de um programa de auditório focado em relacionamentos onde quase tudo é fake. Ela precisa escolher entre três pretendentes no palco, sem saber que um deles é o serial killer Rodney Alcala, fotógrafo condenado pela morte de seis mulheres, mas que acredita-se que pode ter sido responsável pelo assassinato de mais de 130 vítimas.

A cena inicial, apesar da tensão e da boa apresentação da abordagem do assassino, não convence tanto. Certo estranhamento é causado pelo tom de comédia romântica que se estabelece no filme logo em seu começo. Muitas perucas e costeletas também gritam na tela, mas não desviam a atenção de alguns pontos centrais e bem marcados do roteiro, como as violências rotineiras sofridas por mulheres mostradas de forma sutil, de comentários feitos por outras pessoas até a forma como homens criam suposições sobre seus comportamentos.

A primeira metade do longa é bastante bagunçada, especialmente em termos de montagem, pela escolha de mostrar os crimes cometidos pelo serial killer em tempos intercalados, confundindo o formato de troca de cenas e deixando o arco principal fraco e relativamente curto. O protagonismo da personagem de Anna Kendrick parece ser tirado de cena por boa parte do filme.

Como atriz, entretanto, Kendrick se destaca e brilha em tela sempre que aparece. Ela sabe o que faz melhor e mergulha nisso. A cena em que Cheryl resolve sair do roteiro do programa e inventar as próprias perguntas para os pretendentes é um ponto alto do filme, com humor e tensão intercalados de uma maneira muito habilidosa e difícil de se fazer. Ela ri e faz piadas enquanto o público sabe que o candidato que está se saindo melhor na competição é o assassino.

Para uma primeira direção, a aposta não é alta. Não há muita ousadia ou decisões elaboradas, mas a decisão supera o comodismo e entrega um resultado bastante seguro e honesto, sem atrapalhar o espectador por cenas mal planejadas. Mas há um momento em que a Anna por trás das câmeras brilha: a cena do estacionamento. A tensão bem construída na escuridão do ambiente e o jogo de “quem engana quem” feito pelos dois personagens em cena me causaram um desconforto que há tempos não sentia enquanto assistia a um filme. O momento acontece já no terceiro ato, quando as dinâmicas do estúdio de TV já foram deixadas para trás.

As cenas de violência também mostram o cuidado da diretora para criar tais momentos, que são violentos sem ser ofensivos, um caminho que facilmente poderia ser tomado por um diretor homem com menos tato para retratar esse tipo de situação.

É no ótimo terceiro ato, inclusive, que o filme ganha mais força e mostra a que veio. A aliança plantada entre mulheres no começo do filme, em que funcionárias dos bastidores do programa dão dicas e se interessam genuinamente por Cheryl, é mostrada como nem sempre suficiente para que elas se salvem de situações de violência. O fim da história da protagonista, intercalado com desfecho de uma sobrevivente de Alcala, aponta como a vida de mulheres pode ser interrompida de diversas formas, independente do nível de violência que elas sofram por conta ou nas mãos de homens. O terror na verdade é ser mulher.

NOTA: 3,5/5

É Apenas Um Adeus (2024)

48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Exibido na seção ACID do Festival de Cannes

É um tema universal a ideia de que o mundo escolar parece contemplar toda a nossa noção de mundo enquanto vivemos aquele momento. Não sabemos o que vai acontecer depois, mas ao mesmo tempo nos são prometidas todas as possibilidades na entrada da fase adulta, por mais que também ainda sejamos muito novos para decidir, por exemplo, o que queremos fazer da vida.

No documentário É Apenas Um Adeus (So Long), o diretor francês Guillaume Brac explora um grupo de amigos em seus últimos dias de colegial. Os pontos citados são abordados de forma precisa, mas ao mesmo tempo um cenário muito específico é apresentado: todos os personagens mostrados são brancos e a escola é uma espécie de internato, onde os alunos também convivem nos quartos compartilhados e fazem juntos atividades para além da escola.

O filme consegue destacar de forma precisa algumas dualidades desse momento da vida deles ao mostrar discussões sociais, estudos e debates em comparação a brincadeiras de teor infantil, com os alunos correndo para se atirar em cima de colchões que deslizam pelos corredores dos dormitórios.

A direção de Guillaume mostra várias interações longas para evidenciar a proximidade daqueles alunos e aumentar o entendimento de que o afastamento realmente será difícil para todos eles, mas algumas trocas de afeto estão com a câmera tão próxima que parecem montadas de um jeito forçado para render esses belos momentos.

Apesar de retratar com delicadeza os sentimentos tão presentes na história daquelas pessoas, alguns pontos não passam despercebidos para espectadores mais atentos a questões sociais: não há um recorte de sexualidade e gênero no sentido de pessoas LGBT+, que vivem o momento de colégio de uma forma bem específica e podada de muitas situações consideradas comuns, como o “primeiro amor”; e em determinada cena, colegas tiram sarro de um aluno (branco) enquanto desfazem seus dreadlocks, perguntam se há animais escondidos ali, que parece velcro e que está sujo.

A sinopse do documentário traz uma pergunta que parece boba em sua abertura: amizades do colégio podem durar uma vida inteira? Para o espectador (e para mim foi assim quando li a sinopse pela primeira vez) pode soar como um dilema vazio de quem ainda não enfrentou muita coisa na vida, mas uma escolha de abordagem muda tudo. O forte da produção está nas personagens femininas, que são as únicas que dão seus depoimentos. E é muito impactante observar que, para além da dificuldade comum do momento que vivem, todas elas também possuem uma camada extra para a situação, tendo dificuldade de se relacionar com suas famílias e realmente mergulhando na dúvida que está presente na própria sinopse do documentário.

É Apenas Um Adeus está na programação oficial da 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

NOTA: 3/5

Sujo (2024)

48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Vencedor do grande prêmio do júri no Festival de Sundance

A pobreza romantizada é uma representação comum no cinema, infelizmente. No caso de Sujo (2014), dirigido por Astrid Rondero e Fernanda Valadez, explora os personagens no escuro, sempre em ambientes vazios. A natureza ao redor deles é devastada e árvores de galhos secos os cercam por todos os lados e estão presentes em cena a todo tempo. Mesmo na tomada que mostra um belo céu estrelado, esses galhos funcionam como uma moldura na tela.

O longa mexicano acompanha a história de Sujo da infância até a adolescência. Aos 4 anos de idade, ele perde o pai, membro de um cartel que é assassinado. A partir daí, o protagonista passa a ser protegido por suas tias até o fim da adolescência, quando parte para a cidade grande, fugindo do passado “perigoso” e em busca de um emprego e oportunidade de estudar.

A história fica dividida em três partes. Nas duas primeiras, em que Sujo ainda está em Terra Caliente, no estado de Michoacán, o destaque fica para a importância dada para as personagens femininas, todas interpretadas por ótimas atrizes. O rosto dos homens nunca é inteiramente mostrado, nem mesmo o do pai da criança. As mulheres tomam conta da história enquanto protegem os pequenos do mundo do crime e suas ações são sempre destacadas, mesmo quando, em cena, o que temos no centro é o que as crianças estão fazendo no momento.

A direção dessas duas primeiras partes é cuidadosa, a fotografia é usada em favor da narrativa, deixando os personagens no escuro no dia-a-dia e em devaneios durante a noite. É bonito de se ver, mas todas essas decisões, entretanto, são feitas de modo a ressaltar a miséria e a solidão dessas pessoas em um mundo do qual não se parece poder fugir. Sujo, já adolescente, conserta o carro do pai, mesmo carro em que na infância ficou preso por horas. E a partir daí, parece aceitar um destino ingrato, começando a se envolver com o cartel com amigos da mesma idade. Nada é sutil.

Na terceira parte, essa direção assume um tom mais tradicional, abandonando os elementos marcantes das duas primeiras. Um tom professoral entra em cena, idealizando ainda mais a realidade difícil de onde vêm pessoas marginalizadas. A dificuldade de abandonar o passado continua sendo tema central. A visita de um amigo do passado abala a nova vida de Sujo e uma professora, na qual o protagonista reflete a falta de uma presença maternal, mesmo sofrendo nas mãos do jovem, que não sabe o que faz, continua o ajudando e apostando nele.

A cobrança de masculinidade quando mais velho é um caminho pouco explorado, apenas com outros homens que o provocam quando ele passa, mais de uma vez, ao lado de um grupo que treina luta em uma arena na rua. Talvez esse novo recorte acrescentasse uma camada a mais num filme de representações tão problemáticas. Em uma das cenas que mais marcam essa romantização da pobreza de forma velada na cidade grande, a professora fala sobre Sujo para outra pessoa: “Ele não sabe, mas é bem especial”. Visto por americanos progressistas banhados por essa fetichização da miséria, é possível entender o que levou Sujo a levar o grande prêmio do júri no Festival de Sundance.

Sujo está na programação oficial da 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

NOTA: 2,5/5

Anora (2024)

48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes

Ao som de Greatest Day, do Take That, o aguardado novo filme de Sean Baker (Tangerine (2015), Projeto Flórida (2017)) abre e encerra o conto de fadas que é contado do início ao fim em sua primeira meia hora. Ani, interpretada pela excelente Mikey Madison, trabalha como dançarina em uma luxuosa boate de Nova York e oferece serviços extras para alguns de seus clientes. É numa dessas que ela se envolve com Ivan (Mark Eidelstein), filho de um oligarca russo, com vinte e poucos anos e que não tem camada alguma a não ser a de curtir a vida intensamente. Ele está sempre feliz, e isso é o próprio quem diz. Os dois se casam em Las Vegas impulsivamente e se beijam na sacada da luxuosa mansão em que o jovem mora. E é aí que o conto de fadas acaba. Ao descobrirem com quem Ivan está casado, os pais do rapaz embarcam para os Estados Unidos e, enquanto não chegam, seus funcionários brutos precisam conter o casal e anular o casamento.

Sem perder tempo para apresentar seus personagens, apesar da longuíssima introdução para a história, Anora se segura especialmente no humor e na ação para manter o bom ritmo em seus 139 minutos de duração. O filme é destaque na 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e levou a Palma de Ouro em Cannes deste ano. E apesar de começar, e até ser vendido de certa forma, com ares de comédia romântica, a maior parte do filme é focada na relação de Ani com os funcionários dos pais de Ivan, que fugiu pelas ruas de Nova York em um ato de desespero.

A relação de Anora com Ivan não é exatamente clara para além da superficialidade que eles tiram dela. Sabemos que a protagonista almeja mudar de vida e também ter alguma vantagem com o casamento, mas sua insistência na procura por Ivan e na defesa de seu marido (e ela insistentemente pontua esse status do relacionamento) abre margem para um possível sentimento real que há ali, mas nada disso é comprovado, já que a conexão entre os dois é mostrada apenas pelo senso de humor que parecem ter em comum.

A citada longa sequência inicial, cheia de cortes, festas, sexo, viagens e diversão, dá lugar a uma longa cena em que Ani, depois de ser abandonada por Ivan, tenta se livrar dos capangas da família russa na sala da grandiosa mansão. A cena desperta risadas da plateia, mas, ao mesmo tempo em que de fato é engraçada, também gira muito a situação cômica em torno da violência que a personagem feminina está sofrendo nas mãos de três homens que tentam mantê-la presa a qualquer custo. É desconfortável. Para o espanto dos homens grandalhões que tentam controlá-la, ela reluta bastante e demora a ser convencida a também participar na busca pelo jovem rapaz.

A partir desse ponto, a protagonista se apaga. Há toda uma promessa de garra e ambição nos primeiros minutos que se perde nas ruas da cidade. O foco da história muda para a dinâmica da perseguição e a personagem não age muito além do que é esperado. O ponto mais interessante nesse momento é o que Sean Baker faz muito bem em seus filmes anteriores: mostrar as cidades de forma mais crua e suja. Obviamente há romantização dos lugares que vemos, mas pouco do deslumbre que costumamos observar em representações da Califórnia, Orlando e, nesse caso, Nova York é retratado em suas produções. Ainda pensando nas locações, o uso dos cenários e enquadramentos marcantes é essencial para o trabalho emotivo dos momentos em que a personagem, já mais perto do fim do longa, passa novamente por lugares importantes da história, como a mansão, a boate em que dançava e até mesmo as ruas pelas quais andava ao voltar para casa de manhã cedo, após uma noite trabalhando.

Anora, aliás, me remete muito a Tangerine, especialmente pelo caos nos diálogos, nas ruas e nas discussões cheias de xingamento, com uma pessoa falando por cima da outra. Há inclusive uma divertida e nojenta cena de vômito dentro de um carro que remete completamente ao filme de 2015 em uma espécie de autorreferência do diretor.

Apesar dessa exploração da cidade, o mundo ao redor não importa muito, e muitos elementos em volta do que é central em cena ficam desfocados. Os personagens também parecem deslocados nessa busca. Tanto Ani por estar em uma situação que nunca imaginou passar, quanto os capangas russos por estarem se aventurando nas ruas de Nova York. Essa diferença cultural, aliás, é ressaltada em diversas camadas. Os russos, que passam por dificuldades para questões burocráticas, como a anulação do casamento, não cedem ao tom de superioridade dos americanos, que parecem nunca entender a gravidade do que está acontecendo realmente, achando graça quando Ani aparece desesperada procurando por seu marido fugitivo. E também vale destacar o uso da língua russa por boa parte do longa. Obviamente os personagens falam bem mais inglês do que faria sentido em determinadas situações, mas o uso frequente de uma outra língua num filme de um país conhecido pelo público que não gosta de legendas é, no mínimo, interessante.

Mikey Madison é certamente um dos pontos altos do filme. A atriz, que fez uma boa participação em Pânico 5 (2022) e é uma das protagonistas de Better Things (2016), uma das minhas séries favoritas da vida, se joga na pele de Ani e é hipnotizante. Em entrevistas, a atriz fala bastante sobre a experiência de se preparar para o papel. A parte relacionada ao trabalho sexual não parece gratuita durante o filme, o problema fica especialmente na reta final. Além da já citada graça excessiva nas cenas de violência contra a personagem, quando ela volta a tomar as rédeas da história em seus minutos finais, alguns fatores soam problemáticos e o roteiro se percebe claramente escrito por um homem. Em um dos últimos diálogos, há uma delicada conversa sobre estupro que também arrancou risadas da plateia em uma abordagem fora do tom da situação. Não duvido de que uma mulher poderia estar respondendo daquela forma naquela situação, mas o momento poderia ser melhor trabalhado para evitar a interpretação dúbia.

No mesmo diálogo, Ani escuta de outro personagem a frase “eu gosto de Anora mais do que eu gosto de Ani”. E é uma pena que esse vislumbre de quem seria a pessoa por trás da persona Ani se perca na subjetividade dos personagens de um filme em que a protagonista é deixada de lado e mal explorada em boa parte do tempo.

NOTA: 3,5/5

Apartamento 7A (2024)

Nos últimos anos, tornou-se cada vez mais comum o retorno de grandes clássicos do cinema com sequências, remakes, reboots e prequels. Acredito que a maioria esmagadora desses filmes apresenta uma qualidade duvidosa, mas não posso negar que boas surpresas se destacaram nessa leva. De qualquer forma, é sempre arriscado fazer esse tipo de projeto. Na última semana, um deles foi além: Apartamento 7A (Apartment 7A) chega como a prequel de O Bebê de Rosemary.

É um grande risco fazer um prequel de um dos melhores e mais lembrados filmes da história. E sinto que, infelizmente, esse filme entra numa leva de sequências que, não fosse por uma conexão ou outra, poderia ter qualquer outro nome, como o recente A Morte do Demônio: A Ascensão (2023).

No longa, Terry Gionoffrio (Julie Garner) é uma jovem dançarina que, em busca de sua ascensão profissional, é ajudada pelo casal Minnie e Roman Castevet (Dianne Wiest e Kevin McNally), enquanto vê sua vida cercada de forças sombrias durante esse caminhar para o sucesso.

Com o teatro musical presente na premissa, é espantoso como a escolha de não explorar bem esse universo foi tomada. A cena inicial parece descuidada e faz pensar numa falta de orçamento que não é real, especialmente comparada a outros momentos que vemos depois. Um destaque positivo fica para o devaneio da personagem durante seu abuso, que também é um momento bem trabalhado no original. Aqui, é o único momento em que o mergulho no teatro musical é mais ousado imageticamente, com uma bonita representação do demônio (juro!) cravejado de pedras brilhantes. Os outros devaneios se tornam repetitivos, exercendo sempre a mesma função na trama: nenhuma. Mentira, mas é sempre só para assustar por assustar.

Algumas cenas de terror parecem estar lá apenas para essa única função e ficam deslocadas até mesmo da mitologia da história, não convencendo no contexto em que estão. O mal (O MAL!) afeta muito outras pessoas que não estão relacionadas com a trama principal, como se não houvesse regras. E meio que não há mesmo. Há também cenas clichês de histórias de terror sobre gravidez, com protuberâncias na barriga, visões demoníacas do bebê (se bem que a da máquina de lavar é bem legal) e reflexos macabros nos espelhos.

Há uma cena de ensaio em que a protagonista perde o controle, que remete a uma circunstância parecida em Pânico 2 (1997), onde o momento é muito melhor dirigido e parece ser uma referência para a diretora Natalie Erika James. Falando nisso, é impossível também não lembrar de Cisne Negro (2010) quando vemos o desespero da protagonista por sua ascensão, e existe uma cena que remete diretamente ao Suspiria (2018), de Guadagnino. A diferença é, novamente, o comodismo, especialmente quando comparada a referências que chamam tanta atenção justamente por serem dirigidas com mãos pesadas. Obviamente também os dedos do estúdio parecem ter mexido fortemente no projeto por conta de suas crenças no que faria mais sentido para o público, atrapalhando a produção que a diretora tinha em mente.

O apartamento, que dá título ao filme, não é apresentado de maneira grandiosa, mas rever as locações, particularmente as externas, do original me pegou de uma maneira muito positiva. Julie Garner e Dianne Wiest também estão bem comprometidas no trabalho: a primeira é carismática e perceptivelmente se entrega ao papel; a segunda é hipnotizante, com uma voz que se encaixa perfeitamente na horrorosa Senhora Castevet. Gosto muito também da atmosfera criada durante a cena de perseguição da injustiçada Senhora Gardenia, que merecia bem mais espaço também.

A Primeira Profecia (2024) iniciou o ano como uma forte prequel e, ao lado do menos chamativo Imaculada (2024), criou esperança de uma boa leva de filmes de terror pró-aborto. Parece que toda essa parte, que renderia um Apartamento 7A mais forte, aliás, explorando as vontades da personagem de se estabelecer como uma mulher no meio de uma cena artística dominada por homens, vai sendo abandonada até parecer que nem fez parte do filme, quando especialmente na primeira meia hora apresenta cenas super fortes para pontuar o tema, como a da audição de Terry para um novo trabalho.

Por fim, o longa se aproxima tanto do original que quase vira um remake, mas infelizmente acredito que também não seria bom se fosse o caso. A conexão é escancaradamente mostrada na recriação de uma cena do original, que é até divertida de assistir, mas chega depois de toda a parte negativa que já foi entregue ao longo dos mais de 100 minutos de filme. O restante das conexões escondidas e piscadelas para o público, espalhadas pelo roteiro, também não encontram força num filme tão bagunçado.

Obs.: Não entendi direito alguns comentários raciais que o filme faz, desde a forma como a protagonista trata super bem um funcionário negro do prédio até a notícia sobre os protestos de Selma, pela garantia do direito ao voto de pessoas negras. É só para mostrar uma visão política do assunto dada a falta de personagens negros mais relevantes? Tem que ver…

Obs.2: Tem um fade to black na virada pro ato final onde eu jurei que entraria um comercial.

O filmes está disponível no Paramount+.

NOTA: 2/5

Motel Destino (2024)

Ambientado no litoral cearense, Motel Destino apresenta a história de Heraldo (interpretado pelo incrível prodígio Iago Xavier), que, sendo perseguido por uma dívida, busca refúgio em um motel de estrada gerenciado por Dayana (Nataly Rocha) e Elias (Fábio Assunção). O diretor Karim Aïnouz, nascido em Fortaleza, aposta nas cores fortes naturais externas e nos tons vermelhos do interior do motel. Tudo é muito quente, fator ressaltado pelo suor e sujeira sempre presentes na pele dos protagonistas. Uma romantização da vida cotidiana daquele ambiente, onde fica parecendo que tudo pode acontecer e leis não são devidamente seguidas.

O diretor volta à sua terra natal e é curioso associar elementos desse longa com o espetacular O Céu de Suely (2006). Enquanto há quase 20 anos acompanhávamos a busca de Suely por melhores condições de vida para ela e seu bebê, agora o som do choro infantil fora de tela é substituído por gemidos de prazer dos clientes do motel, embalando a história dos protagonistas, que parecem viver em um universo paralelo no ambiente claustrofóbico em que trabalham. A locação do motel, aliás, é um dos destaques do filme gravado em Beberibe, com destaque para o corredor de serviço em que os funcionários têm acesso aos quartos e que é um dos cenários mais marcantes e presentes do longa.

A excelente química entre o trio protagonista possui explicações que vão além da qualidade dos atores: a equipe contou com a presença de uma coordenadora de intimidade no set e teve a rara oportunidade de ter um mês de ensaio em locação antes das gravações começarem. O resultado é visto nas atuações que extrapolam os diálogos, que estão longe da mediocridade e se apresentam de forma muito natural, outra boa marca dos longas do diretor. Conseguimos perceber as relações dos personagens se estreitando em suas ações e reações. A aproximação de Heraldo e Dayana, sendo controlados por esse cara branco e miliciano do Rio de Janeiro, é complexa e íntima, enfrentando situações que os deixam ainda mais conectados. Se livrar de um corpo juntos é um ato de muita intimidade. É lindo quando os três personagens aparecem juntos, organizados em elaborados enquadramentos em tela.

Essas ações e reações ganham força com uma técnica que Karim diz ter se inspirado em David Fincher, que grava uma versão de suas cenas sem diálogos para poder capturar detalhes de emoção que às vezes passam despercebidos quando a voz também está em cena. Na montagem, é possível até cortar algumas linhas de fala dos personagens quando olhares e gestos já podem transmitir a mensagem desejada. Mas nem sempre o roteiro movimentado de Motel Destino faz bom uso dessa fórmula: algumas conversas são bastante expositivas. E a falta de diálogo às vezes não explica o momento, como quando Dayana deixa Heraldo entrar escondido no motel pela primeira vez.

“O perigo é bom, azeita as coisas” é uma frase dita por um dos personagens e que se reflete em tela a todo momento. Na reta final, essa claustrofobia do motel também faz o personagem de Iago fugir de sua vida e de quem é. Enquanto Fábio Assunção apela para o tom constrangedor no melhor dos sentidos, Nataly Rocha aposta certeiramente na já citada naturalidade. O resultado é delicioso, mas não consigo deixar de pontuar certa falta de cuidado com personagens que não seguem algum tipo de heteronormatividade, como se houvesse um julgamento a toda sexualidade reprimida ao fugir desse padrão. A construção sexual entre Elias e Heraldo, por exemplo, nunca se concretiza fortemente, o que é uma grande perda para a narrativa ao ser colocada apenas na condição do “será?”, mesmo diante de diversos momentos em que os corpos masculinos são explorados sensualmente pela câmera.

Outra inspiração citada por Karim é Teorema (1968), do Pasolini. A presença de Heraldo transforma para sempre a vida dos funcionários já acomodados na rotina de funcionamento do motel. E nada mais é o mesmo. Essas transformações se mesclam na estética do filme. Todo gravado em película, é fácil e sexy notar o destaque do suor, do vermelho e do neon. As cores dos lençóis e do céu sempre chamam atenção.

Talvez no futuro não se destaque na filmografia do diretor, mas Motel Destino definitivamente desperta a curiosidade de ver Karim trabalhar mais no Brasil, especificamente no Ceará. Tudo é muito bonito, sensual e bem pensado.

NOTA: 3,5/5

Armadilha (2024)

M. Night Shyamalan, que acabou estigmatizado por seus filmes com reviravoltas e tensões psicológicas, retorna com Armadilha (Trap), num cenário que mistura o mundano com o aterrorizante. Mas, assim como a emboscada que Cooper (Josh Hartnett) tenta evitar, o filme também leva o diretor para a armadilha que suas marcas autorais fizeram o público esperar. 

A premissa é simples: uma noite que deveria ser divertida para Cooper e sua filha Riley (Ariel Donoghue), no show de uma popstar, se transforma em um pesadelo quando percebem que estão no epicentro de uma operação para capturar um serial killer. Até aí, Shyamalan nos entrega o que prometeu: uma ambientação cheia de tensão, onde bastidores e áreas de espectadores são filmados com um cuidado que destaca a técnica para a criação e representação do espetáculo.

O problema começa quando a simplicidade dá lugar à conveniência. Cooper, que se revela como o procurado assassino, começa a se safar com roubos de rádios, infiltrações em áreas restritas e encontros com funcionários falhos. Esse exagero proposital é a grande marca do filme, que acaba se tornando bastante divertido quando a chave vira e você passa a encará-lo de uma outra maneira. Mas as falhas não compensam essa diversão.

Riley, a filha do protagonista, uma adolescente que parece tão dedicada ao show da Lady Raven quanto uma criança que se perde em um parque de diversões, passa bastante tempo perambulando fora da arena enquanto perde o show pelo qual, supostamente, tanto ansiava. Lady Raven, aliás, interpretada pela filha do próprio Shyamalan, Saleka, até consegue convencer como uma estrela pop, mas sua atuação deixa a desejar em alguns momentos..

E é impossível não aplaudir o cuidado com a música. As cenas que capturam o público realmente cantando as músicas da Lady Raven são um refresco em um tipo de abordagem em que esses detalhes costumam ser deixados de lado.

Josh Hartnett varia entre momentos de insanidade convincente e outros de atuação menos inspirada. Mas seu carisma e a nostalgia que desperta nos acompanhantes de filmes de terror do começo dos anos 2000 acrescenta ainda mais a já citada diversão.

Armadilha se prende tanto nas reviravoltas, especialmente em seu ato final, que cai na própria armadilha narrativa. Como em Os Observadores (2024), de sua filha Ishana, o diretor Shyamalan faz o terceiro ato de sua história se perder em múltiplos finais e desvia tanto do palco principal que o filme, em vez de intensificar a tensão, acaba se tornando maçante em seus últimos minutos. Esse ato final que ainda me deixou com mais vontade de acompanhar a personagem da ótima Alison Pill, que se restringe a aparecer apenas nessa última meia hora do longa.

No final das contas, Armadilha, como o próprio título sugere, prende o espectador em uma teia de conveniências e exageros. É fácil ver as falhas no momento, mas, assim como aconteceu comigo, o filme pode crescer na sua mente depois de assistido, principalmente na ótica da suspensão de descrença.

NOTA: 3/5

Os Estranhos: Capítulo 1 (2024)

Uma parte das frustrações causadas por filmes vêm por conta da alta expectativa que temos antes de assisti-los. O lançamento do primeiro longa de uma trilogia dentro da franquia de Os Estranhos, 16 anos depois do original, realmente mexeu com minha animação com o que estava por vir e infelizmente ele estava dentro dessa parte das decepções.

Os Estranhos: Capítulo 1 (The Strangers: Chapter 1) acompanha um jovem casal viajando para o campo que precisa se hospedar em uma pequena cidade quando o carro quebra. Nada novo, mas tudo certo, não é sobre isso, mas o problema já começa aí.

Em Os Estranhos (2008) e em Os Estranhos: Caçada Noturna (2018), as premissas também não são necessariamente criativas, mas o apelo dos dilemas passados por seus personagens são muito fortes. No primeiro, um casal em um triste término e, no segundo, uma família tentando se reorganizar emocionalmente. Nesse, um casal confrontado pelos vivos são tão vazios e “somente” apaixonados que chegam a fazer com que se torça para os mascarados. E torcer para os vilões às vezes é a ideia de algum dos filmes do gênero, mas não era a intenção aqui. Os anteriores eram mais cruéis no sentido da desgraça que toma conta da vida dos personagens durante a noite em que as histórias se passam.

Na verdade, na nova produção, é possível ver pontos negativos antes mesmo de se descobrir a premissa. Além de uma fraca cena de abertura, os letreiros iniciais geram uma desconexão do espectador AVISANDO QUE É UM FILME! O texto ainda promete uma das histórias de crimes violentos mais brutais, o que não se cumpre nessa primeira parte da história.

As situações iniciais enfrentadas pelo casal parecem criadas mais para gerar tensão do que para fazer sentido. Os protagonistas são mais azarados do que vítimas da esperteza dos mascarados. Há menos confronto direto com os vilões do que nos longas anteriores, e olha que no original esse tipo de duelo também demora para acontecer.

Os icônicos mascarados, aliás, são onipresentes. O diretor Renny Harlin possui um histórico de produções bastante aleatório, passando por clássicos das sessões do SBT, como Do Fundo do Mar (1999), até clássicos como Duro de Matar 2 (1990). Seu vasto repertório de trabalho não o faz escapar de decisões fáceis e um gancho que não importa muito no final. Marcas super fortes da franquia são aproveitadas de um jeito fraco e os mascarados parecem possuir super-poderes, se antecipando aos protagonistas, desaparecendo e pendurando animais mortos no teto da casa de maneira completamente inverossímil.

Focando em boas escolhas feitas no filme, há um resgate da ótima canção Sprout and the Bean, da Joanna Newsom (que é casada com o Andy Samberg e não deixa suas músicas no Spotify) e uma boa escolha para a protagonista, Madeleine Petsch, que faz ótimas caras de assustada.

Tudo parece ser um disparo para situações que talvez só encontrem desfecho nos próximos capítulos, mas me incomoda demais o filme não ter um desfecho em si mesmo. Há um ar de conspiração na cidade pequena que nunca se conclui de fato, por exemplo. As duas continuações já estão gravadas e em pós-produção, com uma delas sendo lançada ainda esse ano. Não gostaria de ser o editor nesse momento, já que as críticas a esse primeiro longa com certeza tornará seu trabalho mais difícil e repleto de refações. Com certeza verei, por gostar da franquia e por ter certa dificuldade em abandonar obras serializadas pela metade, só que já não tenho mais as altas expectativas que criei para esse início da trilogia.

Mas espero que as unhas douradas da protagonista continuem lá, são belíssimas.

NOTA: 2/5

O Cara da Piscina (2023)

Não é incomum que atores se tornem diretores e/ou roteiristas depois de certo tempo de carreira. Também não é incomum que eles não sejam necessariamente bons nessas “novas” funções, mesmo que contem com o dinheiro e o elenco que parecem infalíveis. Esse é o caso de O Cara da Piscina (Poolman), dirigido e estrelado por Chris Pine.

No longa, o limpador de piscinas de Los Angeles, Darren Barrenman (Chris Pine), é abordado para ajudar a descobrir a corrupção em um negócio duvidoso. E, apesar de parecer muito mais inteligente que isso, confia em uma estranha que fornece informações sobre o caso, iniciando uma investigação ao lado de suas pessoas mais próximas.

Em boa parte do tempo, o longa brinca com o noir e clássicos de investigação, mas recorre de forma muito negativa aos elementos clichês desses tipos de produção. A linguagem com muita informação deixa tudo muito caótico, atirando para vários lados, contando com sonhos repetitivos e personagens olhando para a câmera em dois momentos completamente fora do tom do que é mostrado ao longo da projeção. Diálogos rápidos e enérgicos confundem o roteiro desde o começo do filme, somados a uma direção que, apesar de todas as tentativas, segue bastante quadrada. Esse caos não ajuda a se envolver na história e nem a se relacionar com os personagens. Por mais que os 100 minutos de duração passem de forma rápida, perto da metade do filme a impressão ainda é de que tudo está começando, mas nada vai a lugar algum.

E não é por falta de elementos que poderiam ser bem explorados. A cena inicial, com a limpeza detalhada da piscina ao som de Dueto das Flores, pode prometer mais do que a produção pode entregar. Há boas reflexões. O protagonista parece não se conformar completamente com a própria vida e encontra na investigação uma motivação maior, ele envia cartas reflexivas para Erin Brockovich, questionando sobre quando sua paixão virou raiva. Infelizmente, tudo isso é pouco aproveitado. A própria reflexão sobre os conjuntos habitacionais de Los Angeles se perdem numa ambientação falha, onde o local nunca é de fato mostrado.

Se às vezes dizemos frases como “o elenco salva o filme”, aqui não cabe, apesar dos nomes excepcionais. Annette Bening, Jennifer Jason Leigh e Danny DeVito são desperdiçados com personagens de exposição fácil, que se transformam em investigadores muito atrapalhados. Há uma cena em que Stephen Tobolowsky fala em voz alto algo como “nossa, hoje foi ótimo, poderia fazer isso pra sempre” enquanto está sozinho após um grandioso momento. A literalidade chega ao ápice em uma “piada” com o personagem de Denny Devito marcando para o espectador o começo do terceiro ato do filmes.

O twist, aliás, chega tarde. Também tornando rasa a abordagem do tema de saúde mental, beirando ao problemático. Não vou nem entrar no ponto sobre o que acontece com o único personagem que tem o mínimo de código queer no filme, assim como a única atriz negra, DeWanda Wise, tendo o papel de uma mulher misteriosa e extremamente bela, cheia de segredos.

Com base em uma Jornada do Herói aplicada de um jeito muito safado, O Cara da Piscina lembra aqueles filmes que aparecem na lista de indicados das categorias de comédia do Globo de Ouro, que ninguém sabe de onde veio. E isso está longe de ser um elogio. A estreia na direção e no roteiro de Chris Pine mostra, no fim das contas, que talvez haja um motivo para que o ator não tivesse mergulhado antes nas águas dessa piscina rasa.

NOTA: 1,5/5

Zona de Interesse (2023)

Nos últimos anos, 3 filmes me marcaram especialmente por suas cenas finais. São momentos que nem precisavam existir para que o longa fosse aclamado, mas cujas presenças funcionam como uma cereja de bolo para a catarse das histórias contadas. O primeiro foi Dor e Glória (2019), do Almodóvar, o segundo foi Assassinos da Lua das Flores (2023), do Scorsese, e agora Zona de Interesse (The Zone of Interest), de Jonathan Glazer.

Com 5 indicações ao Oscar 2024, o novo longa do diretor e roteirista de Sob a Pele (2013) e Reencarnação (2004) retrata o cotidiano da família do então comandante do campo de concentração de Auschwitz, Rudolf Höss, interpretado por Christian Friedel (Babylon Berlin).

Com a casa dos protagonistas literalmente dividindo o muro com Auschwitz, observamos a banalização do momento vivido através do dia-a-dia de quem se favorecia com as atrocidades e crimes cometidos na época. As preocupações com a rotina de filhos e com o jardim mostram a crueldade de um jeito diferente de outras produções que escolhem abordar o tema explicitando a tortura e a tristeza da vida dos perseguidos presos em campos de concentração. A forma como as crianças lidam com a situação dão uma pesada amostra de como o momento já estava enroscado a suas realidades.

Para acentuar esse desconforto, o som tem papel primordial. E desde a cena inicial isso é marcado para o espectador, que é mergulhado em sons à princípio não identificáveis enquanto na tela apenas se vê cores sem uma forma específica, algo que acontece em mais de um momento do longa. Do lado do muro em que não vemos a violência fisicamente, escutamos o som de máquinas, fogo e gritos que parecem crescer ou se tornam mais marcantes ao longo do filme. É como se fôssemos forçados a nos acostumar com esses sons infernais ao fundo, assim como os protagonistas fazem de forma natural.

As escolhas visuais também levam o longa para um lado artístico que combina bem com a falsa tranquilidade mostrada em tela. A câmera parada, sempre mostrando os cômodos de dentro da casa pelos mesmos ângulos, como em um jogo de videogame, reforça a rotina e a monotonia da vida das pessoas que fingem não saber ou simplesmente naturalizam o que acontece do outro lado do muro. Esse reforço é tão grande que, após a sessão, não foi incomum ouvir espectadores que consideraram o filme chato, mas considero que foi um risco escolhido a se correr pela proposta de como a história é contada.

Ainda falando da parte visual, dois momentos se destacam: a parte onírica presente na representação dos sonhos de uma das filhas do casal protagonista e o momento em que a sogra do protagonista observa com horror nos olhos e uma forte luz vermelha em seu rosto o que realmente acontece no ambiente vizinho ao da casa. A esposa de Rudolf, aliás, é interpretada pela contida e excelente Sandra Hüller (Anatomia de uma Queda).

A cena final, citada no começo do texto, deixa de lado qualquer resquício de pensamento de empatia pelos protagonistas. É importante ter, nos dias de hoje, a memória do que foi o nazismo. Somos constantemente assustados pela força que essa ideologia ainda tem e a forma como, na verdade, ela ainda parece crescer.

NOTA: 4/5