O Melhor Amigo (2024)

A cena inicial de O Melhor Amigo, novo longa de Allan Deberton (Pacarrete), apresenta uma situação embaraçosa o suficiente para criar certa conexão com o protagonista Lucas (Vinicius Teixeira). O carro de som constrangedor enviado pelo namorado de Lucas, porém, não é suficiente para que essa conexão se mantenha com o personagem principal pelo restante da história.

Lucas abandona o namorado e deixa para trás sua vida na cidade grande, partindo para férias em Canoa Quebrada, onde reencontra o moreno alto, bonito e sensual Felipe (Gabriel Fuentes), seu amigo de infância. Quando antigos desejos despertam, Lucas se perde nas noites quentes e musicais do lugar em busca de Felipe, que parece cada vez mais distante.

Só o fato de se propor a ser um musical brasileiro centrado em uma trama gay, a produção já soma muitos pontos. Apesar da primeira música demorar a aparecer e de todos esses momentos cantados não serem exatamente pontos de grande movimento para a trama, suas construções são divertidas e a escolha de canções populares como Amante Profissional ajuda na animação que o longa quer proporcionar. Acho o momento musical de Escrito nas Estrelas extremamente bonito, aliás.

Com muitos corpos à mostra e tensão sexual no ar a todo momento, o filme surpreende ao ser um tanto envergonhado, nunca indo a fundo para explorar essa dimensão. O protagonista navega pelo aplicativo de pegação e as imagens de nudes são mostradas de forma desfocada de maneira amadora, então não seria melhor mostrar apenas a conversa? Lucas também se aventura como marmita de casal em uma cena que é cortada imediatamente após a primeira troca de beijos. Parece que qualquer possibilidade de explorar a sexualidade de maneira mais intensa é podada.

Ainda dentro da temática queer, as situações em que Lucas se coloca como homem gay são bastante reais e fáceis de identificar (de um jeito positivo), o longa se destaca especialmente quando coloca o protagonista imerso em comunidade onde recebe força e apoio. As cenas protagonizadas pelo grupo de drag queens e mulheres trans que acompanham Lucas são os momentos mais emocionantes do longa. Destaco especialmente a bela cena no beco, onde o protagonista conversa com a drag Deydianne Piaf, do ótimo Denis Lacerda – talvez o ponto que mais tenha me marcado no filme.

As soluções fáceis da primeira metade do roteiro, como um empurrão forçado para que Lucas cante constrangedoramente no karaokê, se transformam em uma sucessão de situações jogadas que deixam a segunda parte mais bagunçada. Os desfechos são mal construídos e fazem parecer que o longa não está tão preocupado em manter uma coesão narrativa, mas sim em outros momentos marcantes e/ou divertidos durante seus 96 minutos de duração.

O protagonista também não ajuda muito, a falta de artifícios para que se crie empatia com ele é tanta que eu chego a questionar se ele realmente gosta do namorado apesar de constantemente repetir que sim. E achei bem difícil comprar a questão de como o personagem lida com a temática corporal. O filme parece tentar evitar a gordofobia, mas acaba caindo nela ao limitar o comentário de Lucas sobre o tema a uma única fala e ao resolver de maneira rasa a relação de Martin (Léo Bahia), namorado do protagonista, com os outros personagens. Não sei se algo pode ter sido cortado ou se realmente há uma falta de aprofundamento do assunto.

De qualquer modo, O Melhor Amigo cria um ótimo respiro para produções LGBTQIA+ brasileiras, apontando para possibilidades de narrativas pouco exploradas. A participação de nomes como Claudia Ohana, Gretchen e Mateus Carrieri reforçam o comprometimento do longa com a cultura popular, assim como o fato de se passar fora do sul ou sudeste brasileiro. Espero, de verdade, que o longa de Deberton vire referência de cinema queer para o que está por vir daqui pra frente no Brasil.

Uma Advogada Brilhante (2025)

Juro que entrei na sessão de Uma Advogada Brilhante, novo filme de Ale McHaddo, estrelado por Leandro Hassum, com um pouco de boa fé para uma história que não entregasse o que praticamente promete num pôster e num trailer problemático. O longa chegou aos cinemas brasileiros no último dia 6 de março e talvez eu tenha cometido um erro ao entrar na sala de cinema com o mínimo de positividade para o que estava por vir.

No filme, Dr. Michelle, um advogado recém-divorciado, decide se disfarçar como mulher para não perder seu emprego durante uma reestruturação e conseguir a guarda de seu filho. Porém, viver como Dra. Michele se revela mais desafiador do que esperado.

Mas não vou me culpar, mudei meu pensamento positivo de forma rápida. Logo no começo do filme, Danilo Gentili interpretando um personagem chamado Daniel Gentil já foi sinal vermelho suficiente. A partir daí, a sucessão de piadas questionáveis (para dizer o mínimo) é crescente.

O humor tenta surgir de trocadilhos com o nome de Pabllo Vittar, do supostamente hilário nome “Mamma Minha” para uma pizzaria italiana, de associações maldosas com cemitério indígena e até da ideia de que alguém pesa muito por comer muita pizza. Juro que o nome “Power Guido” é citado. E há ainda piadas com berinjela e com uma linguiça cortada na cozinha do restaurante. Essas duas últimas, aliás, conversam com uma questão crucial da história do longa.

Com a trama centrada em um personagem homem cis que passa a se vestir e portar como é esperado socialmente de uma mulher, a chance de se esbarrar em transfobia é imensa. Piadas usando “nome morto” (termo que se refere ao nome que uma pessoa trans usava antes da transição) e tirando sarro de pronome neutro são feitas sem pensar duas vezes. Para “amenizar” essas situações ou se defender antecipadamente, o longa ainda usa uma personagem trans como irmã do protagonista o reprimindo em alguns momentos. Poderia ser um ponto positivo caso não parecesse estar lá apenas para dar o aval do roteiro fazer piadas com um homem vestido de mulher. Em 2025.

Michelle prova roupas femininas ao som de As Frenéticas cantando “eu sei que eu sou bonita e gostosa”, numa tentativa preguiçosa e problemática de arrancar risadas. Há uma tentativa de crítica. O personagem de Hassum passa a aprender as dificuldades de ser uma mulher ao se passar por uma, mas a crítica fica rapidamente datada quando um dos maiores problemas que ele enfrenta é ser interrompido por outros homens. Tudo é muito raso, e as piadas, que muitas vezes parecem atacar qualquer tentativa de crítica social, acabam diminuindo qualquer discussão ou pauta séria.

Além disso, o roteiro assinado pela própria Ale McHaddo, por Luiz Felipe Mazzoni e Cristiane Wersom, não se segura no sentido de estrutura e verossimilhança. O julgamento de guarda de uma criança é feito nos moldes de um tribunal americano, um romance aparece no meio do filme levando a mais piadas comprometedoras envolvendo Michelle se interessando por outra mulher enquanto está vestido de mulher e outros personagens mudam de comportamento sem qualquer justificativa. A trama principal se encerra antes da meia hora final do filme, quando a história se torna outra.

Obviamente, todos os erros do protagonista e de seus colegas são justificados em prol de manter uma família unida. E se a ideia é referenciar e/ou homenagear clássicos da Sessão da Tarde como Uma Babá Quase Perfeita ou Tootsie, vale lembrar que esses filmes foram lançados há mais de 30 anos.

NOTA: 0,5/5

Better Man: A História de Robbie Williams (2024)

A inusitada cinebiografia de Robbie Williams chega aos cinemas nacionais trazendo seu protagonista representado como um macaco!

Better Man – A História de Robbie Williams é um perfil singular do astro pop britânico!

E você, gosta da ideia de como o protagonista do filme foi representado?

Confira a crítica em vídeo:

Ansioso para assistir a esse filme nos cinemas? Conta pra mim suas expectativas e o que está esperando do novo longa. Deixa seu like, comentário e ative as notificações para não perder nenhum vídeo!

Jonno Davies as “Robbie Williams” in Better Man from Paramount Pictures.

Sing Sing (2023)

Sing Sing chega aos cinemas nacionais com três indicações ao Oscar e protagonismo forte de Colman Domingo, que inclusive concorre ao prêmio pelo papel.

No filme, Divine G, preso em Sing Sing por um crime que não cometeu, encontra um propósito ao atuar em um grupo de teatro ao lado de outros homens encarcerados nesta história de resiliência, humanidade e o poder transformador da arte. A história é inspirada em um projeto real mantido pela penitenciária de Sing Sing na vida real.

Lembra aqueles filmes dramáticos dos anos 2000 que as mães adoram! Vai dar uma chance? O que acha desse tipo de narrativa?

Confira a crítica em vídeo:

Ansioso para assistir a esse filme nos cinemas? Conta pra mim suas expectativas e o que está esperando do novo longa. Deixa seu like, comentário e ative as notificações para não perder nenhum vídeo!

Emilia Pérez (2024)

Depois de muita polêmica, Emilia Pérez finalmente chega aos cinemas do Brasil. Como avaliar o filme diante de tantos elementos externos problemáticos surgindo a todo momento?

No longa, uma advogada recebe uma oferta inesperada para ajudar uma pessoa que é chefe de cartel e quer se aposentar de seus negócios, desaparecer para sempre, e tornar-se a mulher que ele sempre sonhou ser.

Confira a crítica em vídeo:

Ansioso para assistir a esse filme nos cinemas? Conta pra mim suas expectativas e o que está esperando do novo longa. Deixa seu like, comentário e ative as notificações para não perder nenhum vídeo!

Baby (2024)

48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Vencedor do prêmio de ator em ascensão para Ricardo Teodoro na Semana da Crítica do Festival de Cannes

Depois de sucesso em festivais ao redor do mundo, Baby, novo filme do diretor Marcelo Caetano (Corpo Elétrico) chega aos cinemas do Brasil.

No filme, após ser liberado de um centro juvenil, Wellington (João Pedro Mariano) se vê sem teto em São Paulo. Em um cinema pornô, ele conhece Ronaldo (Ricardo Teodoro), que o ensina a sobreviver nas ruas. O vínculo entre eles se transforma em um caso turbulento.

O filme se destaca ao mostrar com sensibilidade a relação de seus complexos personagens na São Paulo dos marginalizados.

Confira a crítica em vídeo:

Ansioso para assistir a esse filme nos cinemas? Conta pra mim suas expectativas e o que está esperando do novo longa. Deixa seu like, comentário e ative as notificações para não perder nenhum vídeo!

Babygirl (2024)

Nicole Kidman é a protagonista de Babygirl, thriller erótico dirigido por Halina Reijn (Morte, Morte, Morte) que acaba de chegar aos cinemas do Brasil.

Na trama, acompanhamos Romy (Kidman), uma CEO bem sucedida que coloca em risco sua vida pessoal e profissional quando se envolve em um jogo de gato e rato com Samuel (Dickinson), o novo estagiário da empresa em que ela trabalha. O longa rendeu o prêmio de Melhor Atriz para Nicole Kidman no Festival de Veneza de 2024.

Além de Kidman e Dickinson, Babygirl conta com Antonio Banderas, Sophie Wilde, Izabel Mar, Esther Rose McGregor e Vaughan Reilly no elenco. O filme conta com distribuição da Diamond Films.

Confira a crítica em vídeo:

Ansioso para assistir a esse filme nos cinemas? Conta pra mim suas expectativas e o que está esperando do novo longa. Deixa seu like, comentário e ative as notificações para não perder nenhum vídeo!

O Auto da Compadecida 2 (2024)

Quando o trailer de O Auto da Compadecida 2 chegou há alguns meses, a suspeita levantada não foi das melhores. A produção, toda feita em estúdio, e a repetição de alguns elementos marcantes do primeiro filme levantaram de imediato questões sobre a originalidade da sequência de um dos títulos mais icônicos do cinema brasileiro.

A trama se inicia 20 anos depois da história que já se conhece. Agora, João Grilo (Matheus Nachtergaele) retorna à Taperoá para se juntar ao velho companheiro Chicó (Selton Mello) e, após sua história de ressurreição ter se espalhado, é disputado como cabo eleitoral por dois poderosos políticos na cidade.

De fato, o estúdio, o CGI e as maquetes estão muito presentes no novo filme, mas sua utilização pode ser encarada como certo olhar fantástico numa artificialidade que dispara bonitos momentos na vida de personagens tão marcantes na cultura nacional. Mas novas caras formam um time de peso na sequência. Fabíula Nascimento, Humberto Martins, Luís Miranda, Taís Araújo e Eduardo Sterblitch são apostas certeiras de rostos carismáticos e talentosos.

Fica difícil, entretanto, não questionar  a maioria branca e sudestina em uma história que representa tão intensamente uma cultura regional do Brasil. Por mais talentosos que sejam, é bastante complicado encarar, por exemplo, os sotaques falsos que tanto são questionados até hoje por estarem presentes em nossas telenovelas.

Falando em talento, a dupla de protagonistas segue sendo destaque nesse novo filme. Selton Mello está mais contido e consegue adaptar o tempo passado entre as duas narrativas para como ele afeta seu personagem de maneira muito cuidadosa. Matheus Nachtergaele é tão talentoso que não chega necessariamente a surpreender, mas ganha ainda mais espaço para fazer seu João Grilo brilhar em tela. Apesar do roteiro se apoiar bastante nos trejeitos já conhecidos do personagem, Matheus tem a possibilidade de demonstrar sua versatilidade em cenas como a revisita ao clássico momento do purgatório, que funciona quase como uma homenagem a uma das cenas mais marcantes do cinema nacional. E aproveitando as menções para o sucesso do original, destaco também a sempre excelente Virginia Cavendish, como uma Rosinha agora mais independente e com mais motivações.

A direção de Guel Arraes e Flávia Lacerda é divertida, brinca com profundidade e foco em diversos momentos. Ao lado de João Falcão e Adriana Falcão, Guel assume o roteiro, que chegou a ser conversado com Ariano Suassuna em etapas iniciais e foi aprovado pela família do escritor. O salto temporal é usado para encher a trama de elementos baseados nas mudanças da vida dos personagens e traz uma boa, mas não muito profunda (o que também não seria a intenção) discussão sobre polarização política, tecnologia e manipulação dos meios de comunicação. O foco nessa temática e no resgate nostálgico acaba sendo atrapalhado por inserções publicitárias mal colocadas e uma fraca resolução para os diversos e carismáticos personagens secundários.

Brincando com o próprio fato de ser uma continuação, O Auto da Compadecida 2 chega em um bom momento, aproveitando o espaço que grandes estreias nacionais costumam ter nessa época do ano. E apesar dos atropelos e repetições já citadas do roteiro, o sucesso, sem dúvidas, é certo.

NOTA: 3/5

Como Ganhar Milhões Antes que a Avó Morra (2024)

Com uma sequência de abertura efetiva, Como Ganhar Milhões Antes que a Avó Morra (Lahn Mah) apresenta elementos culturais de forma aparentemente bastante natural, ao mesmo tempo que desenvolve a narrativa disparando a premissa do longa. Acompanhamos a humilde família protagonista, de origem chinesa, em um belo cemitério da Tailândia.

O filme nos apresenta M, um jovem que abandona o trabalho para cuidar da avó à beira da morte, motivado pela herança que pode receber dela. Ele planeja conquistar a preferência familiar dela antes que ela morra.

Adotando uma narrativa melodramática clássica, o roteiro se apresenta em uma fotografia bonita e bem pensada, usando bem os elementos do caos de uma cidade desde os créditos iniciais. A composição de cenas realmente chama atenção, planejada em cada novo plano e com várias soluções espertas, especialmente nas locações mais movimentadas.

O roteiro ensaia uma reflexão de como a geração z nascida após 2000 está querendo ir atrás de dinheiro de maneiras menos tradicionais, questionando o ideal de se trabalhar com o que se sonha e priorizando a grana. A prima do protagonista, uma das personagens mais interessantes da história, aliás, herda uma mansão, quer investir seu dinheiro e tem uma conta no OnlyFans. Em um contraponto um pouco mais tradicional, há uma romantização da família batalhadora que se sacrifica para manter uma renda que forneça sua sobrevivência: uma mulher larga a escola para trabalhar com a mãe em uma barraquinha de comida de rua e, em uma cena específica em hospital, vemos uma enorme fila marcada no chão pelos calçados das dezenas de pessoas que aguardam atendimento. Esta última é uma cena bonita, reforçada pela já citada cuidadosa fotografia, mas que apela para um sentimentalismo fácil.

Obviamente há muita eficiência nessa apelação. O longa é um ótimo exemplo de como usar clichês de maneira popular em sua primeira metade. A transformação do personagem principal, aprendendo sobre a vida com a avó e tendo uma experiência de evolução em uma história que começou por puro interesse, emociona e causa risadas fáceis em diversos momentos. É o filme “para toda a família”. E digo isso no melhor sentido que essa expressão pode ter.

Na segunda metade, o roteiro se ocupa ainda mais em querer fazer chorar e mergulha no melodrama em uma pesada mão do diretor Pat Boonnitipat. A trilha sonora pesada em momentos emocionados e a exploração mais profunda da condição da avó com câncer acabam enfraquecendo o bom uso dos clichês da primeira hora.

Pensando em mercado internacional e na presença do filme tailandês na shortlist de indicações para a categoria de Melhor Filme Internacional do Oscar, não consigo não questionar certa “limpeza” que é feita dessa Tailândia mostrada para o exterior. Penso nisso levando em consideração muitas das produções que são feitas por aqui também, especialmente as que romantizam pobreza. Infelizmente, também acho que possa ser o caso de Como Ganhar Milhões Antes que a Avó Morra.

NOTA: 2,5/5

Sebastian (2024)

A exposição mal executada e às vezes desnecessariamente verbalizada está entre os grandes problemas de Sebastian. Há uma cena no longa de Mikko Mäkelä em que o protagonista Max, que está acostumado a sair com seus clientes de seu trabalho como garoto de programa, transa casualmente com um colega que, em determinado momento, pede para que ele pegue mais leve no sexo. Logo em seguida, como se já não estivesse claro o que a cena representa, o personagem ainda declara que eles não estão em um filme pornô para que o protagonista se comporte daquela maneira. Esse excesso de explicação que atrapalha diversos momentos do longa.

O filme chega nesta semana aos cinemas brasileiros após passagem por alguns festivais e conta a história de Max, interpretado pelo fraco Ruaridh Mollica, um aspirante a escritor de 25 anos que mora em Londres, começa uma vida dupla como Sebastian, um trabalhador sexual, para inspirar seu romance de estreia.

É triste ver o potencial do filme desperdiçado por conta dessa exposição. Em alguns momentos, o roteiro realmente apresenta bem seus personagens no diálogo, como quando um dos clientes fala sobre decidir ficar em um apartamento grande mesmo depois de passar a viver sozinho. A explicação para isso vem depois, tudo bem, mas é um ótimo momento de abertura de um personagem que não fala muito sobre si e está criando uma conexão com o protagonista.

Falando em seus clientes, há também um estereótipo dos homens atendidos por Max. Todos apresentados são mais velhos, com alguma questão pessoal grave. O único com a idade próxima a do protagonista está fazendo uma festinha com outros garotos de programas, regada a drogas. E nesse sentido, o filme também parece se aprofundar menos do que acha que se aprofunda na questão do trabalho sexual.

Pessoas familiarizadas com debates de temática queer mais facilmente entram de cara no que o filme se propõe em seus primeiros minutos devido a sua forma eficiente de apresentar seu tema e seus personagens. Apesar de ser feito de uma boa maneira, acaba prejudicando o roteiro do longa em seu decorrer.

Não há uma progressão de mudança de comportamento do protagonista para quando sua vida pessoal começa a ser afetada pelo seu trabalho como garoto de programa. Só depois o espectador passa a entender que ele está preso a essa função de uma forma pessoal para além do interesse do que ela pode oferecer positivamente para seu trabalho como escritor.

Apesar dessa falta de progressão, a direção de Mikko assume um caminho seguro e que funciona em diversos momentos para retratar os dilemas internos de Max, que após um grande ato de sabotagem de sua carreira profissional como escritor, caminha por um corredor escuro e depois observa seu reflexo distorcido em uma janela de metrô.

O trabalho de Ruaridh como ator também não ajuda a convencer nessas mudanças de comportamento do personagem. Além de algumas falas colocadas de maneira inverossímil, suas feições nem sempre mostram o que realmente se passa com Max, e não digo isso no sentido de que o personagem é misterioso.

Também são incluídos comentários excessivos sobre a dificuldade financeira do mercado editorial. O não aprofundamento parece deixar a informação presente apenas para o momento em que o protagonista é questionado sobre estar fazendo o trabalho sexual para compensar a dificuldade financeira por tentar viver da literatura, não há um aprofundamento real sobre como essa questão poderia afetar a vida do personagem.

Além disso, também há uma personagem racializada que funciona apenas como a amiga de Max, que o aconselha e serve apenas para que ele exponha seus dilemas, se tornando vítima das irresponsabilidades do protagonista. A existência dessa personagem no terceiro ato é praticamente nula, exceto, é claro, por uma ligação preocupada para o amigo que não dá notícias há um tempo e ainda a usa como desculpa para a própria mãe por ter saído do país repentinamente.

A parte mais interessante do roteiro, que fala sobre a escrita de autoficção e de como o protagonista esconde parte importante de sua vida, também é mal explorada e romantiza a conexão da escrita como arte e experiências pessoais, ignorando todo o trabalho técnico e de reescrita que esse processo envolve. Max é um astro sem parecer se esforçar tanto para isso além de se aventurar com seus clientes enquanto é Sebastian. Eu juro que em uma das últimas cenas ele chega a escrever com papel e caneta o começo de um livro em primeira pessoa. Difícil…

NOTA: 2/5