A Multidão (2025)

49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Exibido no Festival de Roterdã

Em um país com conservadorismo latente, um grupo de jovens progressistas tenta realizar uma festa de despedida para um amigo próximo. A premissa é universal e poderia se passar em diversos lugares do mundo contemporâneo, inclusive no Brasil, mas em A Multidão (Jama’at / The Crowd) acompanhamos a história desse grupo no Irã.

Usando o dia da festa como cenário, Sahand Kabiri, diretor e roteirista do longa, apresenta especialmente no diálogo diversas questões pelas quais seus personagens estão passando. Tudo é reflexo da sociedade em que vivem, e os conflitos mais detalhados são os que mais se relacionam com o âmbito familiar de alguns desses jovens.

Em muitos momentos, o longa lembra uma peça de teatro e faz isso muito bem, aproveitando o que o cinema pode oferecer em artifícios como plano-sequência, por exemplo. Uma cena longa coloca os jovens conversando enquanto arrumam o grande galpão em que a festa está para acontecer. O galpão é palco de grande parte do filme e da externalização dos sentimentos desses personagens, que parecem se conhecer tanto. Eles lamentam a perda recente de um amigo e fazem comentários ácidos enquanto repassam a longa lista de convidados para o evento organizado.

Dois fatores curiosos se relacionam diretamente com os espectadores brasileiros que assistirem ao filme. Em um dos momentos, o grupo de amigos conversa sobre o risco de intoxicação por metanol presente em bebidas alcoólicas. Em outro ponto, mais específico ainda, eles discutem detalhadamente o histórico momento do 7 a 1 no jogo do Brasil contra a Alemanha realizado na Copa do Mundo de 2014.

Pensando bem (e como mencionei no começo do texto), essas relações do Irã com o Brasil vão muito além dessas suas cenas. Na iminência da separação (seja pela perda, por uma viagem ou por um divórcio), esses jovens reúnem ainda mais força para existir do jeito que são num mundo em que o conservadorismo tem cada vez menos vergonha de falar em voz alta.

Obs. e talvez um pequeno spoiler: adoro cenas de festas bem filmadas e o final de A Multidão entrega o começo de uma ótima, queria mais!

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Autor: Igor Pinheiro

Editor de vídeo e motion designer, roteirista e jornalista formado pela UFF. Viciado e apaixonado por cinema e televisão.

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