Marias (2024)

Focado na participação de mulheres na vida política e no cotidiano do Brasil, o documentário Marias chega aos cinemas pela Descoloniza Filmes e se revela um projeto de vida da diretora e roteirista Ludmila Curi.

Em 2012, a cineasta conheceu Maria Prestes (pseudônimo de Altamira Rodrigues Sobral Prestes), militante comunista nordestina e segunda esposa de Luís Carlos Prestes. É a partir desse encontro que a ideia para o documentário surge.

Iniciando com imagens de Maria Bonita e com a reflexão da diretora sobre como muitas das mulheres representadas nas histórias são apresentadas a partir da relação com homens, o filme usa sua protagonista para falar de outras mulheres importantes para o Brasil em diversos sentidos.

Ludmila teve o privilégio de se aproximar do cotidiano familiar de Maria Prestes. O filme nos mergulha em situações do cotidiano dessa mulher, passando desde uma conversa com a família até falas em um evento universitário. Enquanto a acompanha, o espectador é levado a se conectar com as histórias de outras mulheres que o roteiro destaca: Maria Bonita, Olga Benário Prestes, Dilma Rousseff e Marielle Franco.

Também é interessante acompanhar os comentários metalinguísticos que a diretora faz enquanto nos apresenta a impressionante história de vida de Altamira. Em determinado momento, enquanto a neta de Maria Prestes simula o papel da avó em casa, Ludmila questiona a reconstituição que realiza ao perceber que estava domesticando a figura da jovem.

E é a partir daí que o documentário, que até então parecia bastante convencional, tem sua grande virada. Além das informações apresentadas, o espectador se depara com um questionamento: por que Maria não aparece no filme?

A resposta para a pergunta só vem perto do final, em uma nova virada que torna o documentário ainda mais forte. Essa força também se revela quando a diretora nos leva a Moscou para narrar o período em que Altamira e sua família enfrentaram o exílio, onde Maria ficou surpresa ao se deparar com as mulheres trabalhando em diversos setores, sendo médicas e trabalhando em obras. A realidade era essa por conta da quantidade de homens perdidos para a guerra.

É impossível não se emocionar, especialmente com as raras e íntimas imagens de Marielle Franco, que discute política de forma casual, tomando a réplica de uma cerveja russa, em uma cena tão simples quanto poderosa. Marias tem um recorte específico, mas o roteiro de Ludmila Curi conecta com maestria a história de todas essas mulheres e as humaniza, destacando o quadro geral de sua relevância histórica e social no Brasil.

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Autor: Igor Pinheiro

Editor de vídeo e motion designer, roteirista e jornalista formado pela UFF. Viciado e apaixonado por cinema e televisão.

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