Não Chore, Borboleta (2024)

48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Vencedor do prêmio de melhor filme da Semana da Crítica do Festival de Veneza

Já começando no clichê, uma das maiores magias do cinema é a possibilidade de te transportar para mundos diferentes onde você pode refletir sobre o seu próprio. Os festivais de cinema facilitam essa conexão entre mundos, e foi divertido descobrir que Não Chore, Borboleta (Don’t Cry, Butterfly / Mưa trên cánh bướm), um filme do Vietnã, vencedor do prêmio de melhor filme da Semana da Crítica do Festival de Veneza, se tornou minha primeira grande surpresa na Mostra de São Paulo deste ano.

Após a crise de seu casamento se agravar, uma organizadora de casamentos busca simpatias e rituais para manter seu marido por perto. Enquanto isso, sua filha reflete sobre possibilidades da vida fora do país e uma infiltração sobrenatural no teto de sua casa só pode ser vista por mulheres.

A mistura da premissa fantástica com a ideia de simpatias e uma terceira questão tão humana deixa fácil fácil com que se mergulhe no longa de Linh Duong, especialmente sendo de um país cuja cultura social parece ser tão próxima da brasileira. Diversas cenas externas rápidas do longa poderiam se passar tranquilamente no Brasil. É um conforto exclusivo para a gente, mas ajuda bastante a se envolver na história.

O dia-a-dia da protagonista, com pouquíssimas falas, é apresentado de maneira inteligente. Seu emprego no mundo dos casamentos, lidando com casais apaixonados, entra em contraste com o seu casamento abalado. Ela não consegue tirar o assunto da cabeça, o que se torna mais um fator que a impulsiona para buscar ajudas por meios espirituais.

A todo momento, o roteiro “se costura para dentro”. A personagem da filha sonha com a vida fora do país. Sua claustrofobia é destacada especialmente pelo fato de seu namorado morar na casa vizinha. Os dois chegam a se cruzar nas escadas do condomínio em que moram. Outro momento importante envolvendo a mesma personagem se dá quando ela conta para a mãe seus planos para sair de casa. A discussão entre as duas é tão central e o relacionamento delas se torna tão o que o filme é no fim das contas, que o público demora a descobrir que o pai também está presente no momento.

Com a infiltração no teto de casa saindo do controle, a parte final do longa se perde um pouco no ritmo, mas segura seus pontos positivos ao abraçar a fantasia mais profundamente. Conectando todas as histórias a esse mal que está tomando conta da casa, é um momento extremamente difícil envolvendo muita água e extremamente bem filmado. É tão bonito que reforça as criativas escolhas estéticas feitas pela direção desde o início do filme.

Abraçando o simbolismo, Não Chore, Borboleta reflete num universo fantástico como mulheres têm decisões e as vidas afetadas por questões conectadas a relações com homens para manter a estrutura do lar.

NOTA: 4/5

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Autor: Igor Pinheiro

Editor de vídeo e motion designer, roteirista e jornalista formado pela UFF. Viciado e apaixonado por cinema e televisão.

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