Apartamento 7A (2024)

Nos últimos anos, tornou-se cada vez mais comum o retorno de grandes clássicos do cinema com sequências, remakes, reboots e prequels. Acredito que a maioria esmagadora desses filmes apresenta uma qualidade duvidosa, mas não posso negar que boas surpresas se destacaram nessa leva. De qualquer forma, é sempre arriscado fazer esse tipo de projeto. Na última semana, um deles foi além: Apartamento 7A (Apartment 7A) chega como a prequel de O Bebê de Rosemary.

É um grande risco fazer um prequel de um dos melhores e mais lembrados filmes da história. E sinto que, infelizmente, esse filme entra numa leva de sequências que, não fosse por uma conexão ou outra, poderia ter qualquer outro nome, como o recente A Morte do Demônio: A Ascensão (2023).

No longa, Terry Gionoffrio (Julie Garner) é uma jovem dançarina que, em busca de sua ascensão profissional, é ajudada pelo casal Minnie e Roman Castevet (Dianne Wiest e Kevin McNally), enquanto vê sua vida cercada de forças sombrias durante esse caminhar para o sucesso.

Com o teatro musical presente na premissa, é espantoso como a escolha de não explorar bem esse universo foi tomada. A cena inicial parece descuidada e faz pensar numa falta de orçamento que não é real, especialmente comparada a outros momentos que vemos depois. Um destaque positivo fica para o devaneio da personagem durante seu abuso, que também é um momento bem trabalhado no original. Aqui, é o único momento em que o mergulho no teatro musical é mais ousado imageticamente, com uma bonita representação do demônio (juro!) cravejado de pedras brilhantes. Os outros devaneios se tornam repetitivos, exercendo sempre a mesma função na trama: nenhuma. Mentira, mas é sempre só para assustar por assustar.

Algumas cenas de terror parecem estar lá apenas para essa única função e ficam deslocadas até mesmo da mitologia da história, não convencendo no contexto em que estão. O mal (O MAL!) afeta muito outras pessoas que não estão relacionadas com a trama principal, como se não houvesse regras. E meio que não há mesmo. Há também cenas clichês de histórias de terror sobre gravidez, com protuberâncias na barriga, visões demoníacas do bebê (se bem que a da máquina de lavar é bem legal) e reflexos macabros nos espelhos.

Há uma cena de ensaio em que a protagonista perde o controle, que remete a uma circunstância parecida em Pânico 2 (1997), onde o momento é muito melhor dirigido e parece ser uma referência para a diretora Natalie Erika James. Falando nisso, é impossível também não lembrar de Cisne Negro (2010) quando vemos o desespero da protagonista por sua ascensão, e existe uma cena que remete diretamente ao Suspiria (2018), de Guadagnino. A diferença é, novamente, o comodismo, especialmente quando comparada a referências que chamam tanta atenção justamente por serem dirigidas com mãos pesadas. Obviamente também os dedos do estúdio parecem ter mexido fortemente no projeto por conta de suas crenças no que faria mais sentido para o público, atrapalhando a produção que a diretora tinha em mente.

O apartamento, que dá título ao filme, não é apresentado de maneira grandiosa, mas rever as locações, particularmente as externas, do original me pegou de uma maneira muito positiva. Julie Garner e Dianne Wiest também estão bem comprometidas no trabalho: a primeira é carismática e perceptivelmente se entrega ao papel; a segunda é hipnotizante, com uma voz que se encaixa perfeitamente na horrorosa Senhora Castevet. Gosto muito também da atmosfera criada durante a cena de perseguição da injustiçada Senhora Gardenia, que merecia bem mais espaço também.

A Primeira Profecia (2024) iniciou o ano como uma forte prequel e, ao lado do menos chamativo Imaculada (2024), criou esperança de uma boa leva de filmes de terror pró-aborto. Parece que toda essa parte, que renderia um Apartamento 7A mais forte, aliás, explorando as vontades da personagem de se estabelecer como uma mulher no meio de uma cena artística dominada por homens, vai sendo abandonada até parecer que nem fez parte do filme, quando especialmente na primeira meia hora apresenta cenas super fortes para pontuar o tema, como a da audição de Terry para um novo trabalho.

Por fim, o longa se aproxima tanto do original que quase vira um remake, mas infelizmente acredito que também não seria bom se fosse o caso. A conexão é escancaradamente mostrada na recriação de uma cena do original, que é até divertida de assistir, mas chega depois de toda a parte negativa que já foi entregue ao longo dos mais de 100 minutos de filme. O restante das conexões escondidas e piscadelas para o público, espalhadas pelo roteiro, também não encontram força num filme tão bagunçado.

Obs.: Não entendi direito alguns comentários raciais que o filme faz, desde a forma como a protagonista trata super bem um funcionário negro do prédio até a notícia sobre os protestos de Selma, pela garantia do direito ao voto de pessoas negras. É só para mostrar uma visão política do assunto dada a falta de personagens negros mais relevantes? Tem que ver…

Obs.2: Tem um fade to black na virada pro ato final onde eu jurei que entraria um comercial.

O filmes está disponível no Paramount+.

NOTA: 2/5

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Autor: Igor Pinheiro

Editor de vídeo e motion designer, roteirista e jornalista formado pela UFF. Viciado e apaixonado por cinema e televisão.

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