Uma parte das frustrações causadas por filmes vêm por conta da alta expectativa que temos antes de assisti-los. O lançamento do primeiro longa de uma trilogia dentro da franquia de Os Estranhos, 16 anos depois do original, realmente mexeu com minha animação com o que estava por vir e infelizmente ele estava dentro dessa parte das decepções.

Os Estranhos: Capítulo 1 (The Strangers: Chapter 1) acompanha um jovem casal viajando para o campo que precisa se hospedar em uma pequena cidade quando o carro quebra. Nada novo, mas tudo certo, não é sobre isso, mas o problema já começa aí.
Em Os Estranhos (2008) e em Os Estranhos: Caçada Noturna (2018), as premissas também não são necessariamente criativas, mas o apelo dos dilemas passados por seus personagens são muito fortes. No primeiro, um casal em um triste término e, no segundo, uma família tentando se reorganizar emocionalmente. Nesse, um casal confrontado pelos vivos são tão vazios e “somente” apaixonados que chegam a fazer com que se torça para os mascarados. E torcer para os vilões às vezes é a ideia de algum dos filmes do gênero, mas não era a intenção aqui. Os anteriores eram mais cruéis no sentido da desgraça que toma conta da vida dos personagens durante a noite em que as histórias se passam.
Na verdade, na nova produção, é possível ver pontos negativos antes mesmo de se descobrir a premissa. Além de uma fraca cena de abertura, os letreiros iniciais geram uma desconexão do espectador AVISANDO QUE É UM FILME! O texto ainda promete uma das histórias de crimes violentos mais brutais, o que não se cumpre nessa primeira parte da história.

As situações iniciais enfrentadas pelo casal parecem criadas mais para gerar tensão do que para fazer sentido. Os protagonistas são mais azarados do que vítimas da esperteza dos mascarados. Há menos confronto direto com os vilões do que nos longas anteriores, e olha que no original esse tipo de duelo também demora para acontecer.
Os icônicos mascarados, aliás, são onipresentes. O diretor Renny Harlin possui um histórico de produções bastante aleatório, passando por clássicos das sessões do SBT, como Do Fundo do Mar (1999), até clássicos como Duro de Matar 2 (1990). Seu vasto repertório de trabalho não o faz escapar de decisões fáceis e um gancho que não importa muito no final. Marcas super fortes da franquia são aproveitadas de um jeito fraco e os mascarados parecem possuir super-poderes, se antecipando aos protagonistas, desaparecendo e pendurando animais mortos no teto da casa de maneira completamente inverossímil.
Focando em boas escolhas feitas no filme, há um resgate da ótima canção Sprout and the Bean, da Joanna Newsom (que é casada com o Andy Samberg e não deixa suas músicas no Spotify) e uma boa escolha para a protagonista, Madeleine Petsch, que faz ótimas caras de assustada.

Tudo parece ser um disparo para situações que talvez só encontrem desfecho nos próximos capítulos, mas me incomoda demais o filme não ter um desfecho em si mesmo. Há um ar de conspiração na cidade pequena que nunca se conclui de fato, por exemplo. As duas continuações já estão gravadas e em pós-produção, com uma delas sendo lançada ainda esse ano. Não gostaria de ser o editor nesse momento, já que as críticas a esse primeiro longa com certeza tornará seu trabalho mais difícil e repleto de refações. Com certeza verei, por gostar da franquia e por ter certa dificuldade em abandonar obras serializadas pela metade, só que já não tenho mais as altas expectativas que criei para esse início da trilogia.
Mas espero que as unhas douradas da protagonista continuem lá, são belíssimas.
NOTA: 2/5



