Ninguém Vai Te Salvar (2023)

Com deliciosos elementos clássicos bem espalhados em uma ótima meia hora inicial, o novo filme de Brian Duffield infelizmente se perde um pouco antes de tentar se salvar com um final maldoso.

Contém spoilers, beleza?

De vez em quando surge algum filme em algum streaming que gera alguma conversinha e une bolhas. Não sei se Ninguém Vai Te Salvar está totalmente contemplado no último caso, mas tem chamado atenção de públicos diversos. Minha animação para assistir cresceu depois do trailer animado e de um frame que mostrava aquele ET clássico, de corpo magro e longo, com os olhões pretos brilhosos.

As histórias de invasão alienígena que mais me atraem são as que mostram a coisa acontecendo ali, na hora, com o ser humano não fazendo ideia do que está rolando. Guerra dos Mundos é um bom exemplo disso. Do lado oposto, com humanos praticamente adaptados à convivência com alienígenas, não lembro de um exemplo que eu goste além de Distrito 9, que me agrada bastante!

Com isso em consideração, a meia hora inicial de Ninguém Vai Te Salvar foi deliciosa de assistir. Kaitlyn Dever é carismática e parece se divertir como a misteriosa Brynn fugindo do ataque extraterrestre em sua casa. Com o passar do tempo, para além de referências clássicas, o longa também remete ao badalado Um Lugar Silencioso. Isso eu só descobri enquanto assistia e acho que funciona bem mais aqui do que na produção de John Krasinski, que promete desde seu título muito mais silêncio do que nos faz escutar depois.

Feliz com toda a ação em seus momentos iniciais, me surpreendi com a primeira reviravolta do filme, que mostra a protagonista tentando pedir ajuda para o resto da cidade e sendo ignorada por todas as pessoas, levando até cuspida na cara (quem nunca?). Caminhando na direção de uma ótima referência ao praticamente subgênero Invasores de Corpos, o roteiro acerta em usar a rejeição sofrida por Brynn como mais um ponto de conexão com o espectador. Ela acabou de lutar contra um ET, poxa!

Ao mesmo tempo, cresce a clareza da informação de que o comportamento dos outros moradores da cidade se dá por algo grave que a protagonista fez no passado. O trauma se torna um tema mais latente e aparentemente previsível enquanto o filme é abduzido pela falta de regras. Os alienígenas mudam de comportamento a cada cena e suas habilidades idem: eles conseguem mover um carro e um sofá com sua tecnologia, mas são incapazes de destruir o teto da casa para capturar Brynn. E quando não é possível controlar o corpo de heroína (?), um clone é criado (pois é!). Entendo que conveniência talvez seja algo intrínseco a qualquer roteiro, mas se torna exagerada quando deixa a verossimilhança da história em risco, e é o que acontece aqui. Confesso, entretanto, que caí direitinho no clichê da protagonista enfrentando seu trauma passado, com seu eu completamente sujo e machucado matando o clone perfeito recém-criado. Clone que nos remete à persona que Brynn fingia ter no início da história. O que nos leva para o fim do filme. Ah, o fim do filme…

Como o título promete, ninguém salva a protagonista e ela é absolvida (ou condenada) pelos alienígenas, podendo viver a vida que nunca teve, repleta de relações sociais, ao lado de corpos controlados pelos invasores. O mais inusitado é que em um longa repleto de símbolos clássicos, um final sincero e maldoso surpreende, se tornando até arriscado. Acho que essa fuga de uma narrativa clássica nos últimos minutos pode incomodar para quem gostaria de assistir ao pacote completo de ótimos clichês de invasão alienígena. Eu gostei, me deixou com um sorrisinho na cara, é maldoso na medida certa e faz o filme crescer na minha cabeça com o passar dos dias, mas não chega a apagar os problemas do segundo ato repleto de repetições e saídas fáceis.

NOTA: 3,5/5

ENLATADO

Contra a Interpretação, Susan Sontag

Eu tô adiando há tanto tempo voltar com esse blog que tudo que eu teclo aqui, minutos antes de começar a publicar, me parece clichê. Seja pelo cansaço que a rotina de escrita acaba causando, especialmente por não ser minha ocupação principal, ou pela insegurança de ter outras pessoas lendo e pensando sobre o que eu tô falando, sempre vem a insegurança de começar a escrever e publicar.

Pra quem? Pra que? “Pra mim” parece ser uma boa (e também clichê) resposta. E vai ser isso. Obviamente que me ajuda a criar contatos, ter um portfólio de críticas e dar minha opinião (é do gay dar opinião). Mas uma vez que escrever, desde quase literalmente sempre, é uma das coisas que eu mais gosto de fazer, seja com os livros escritos à mão em cadernos de 96 páginas na infância, com as séries virtuais no Orkut, com os vários projetos e roteiros de séries e filmes nos últimos anos ou até mesmo com os inúmeros blogs que já comecei, “pra mim” parece um clichê que funciona muito bem nesse momento.

Fique uns bons e queridos anos escrevendo pro saudoso CCine10, que me deu muitas oportunidades bacanas, cobrindo festivais, entrevistando atores e diretores (um beijo pro Guadagnino), indo em cabines e conhecendo outros jornalistas muito legais (que sempre me fizeram afastar a ideia comum dos cinéfilos insuportáveis (que também existem, obviamente, mas que de certa forma ajudam a dar a graça do rolê todo)). Também escrevi por algumas semanas e ao lado de pessoas muito fofas (!!!)  no também saudoso CineAddicition, que me ajudou a aprender a como consumir não só o que eu tava a fim e ainda por cima a escrever sobre isso.

Enfim, pela 8439ª vez e meio cansado de colocar a culpa em não ter tempo, estar esperando a ideia perfeita ou acreditar que meu negócio é outro (e é óbvio que eu vou continuar a fazer isso), volto a escrever sobre cinema, TV e o que mais der vontade sobre, especialmente relacionado à cultura pop (e especialmente sobre cinema e TV mesmo, de vez em quando com alguma ênfase em terror, temáticas LGBT+ e raciais (e às vezes com ênfase nisso tudo junto (porque eu sou isso tudo junto))).

Em um dos meus blogs, lembro do primeiro post citar pessoas, sites, séries e filmes que me inspiravam. Algumas das pessoas até viram e acharam fofo depois, me mandaram mensagem, fiquei sem jeito, um horror, uma vergonha de repetir isso. Nos textos minhas referências vão ficar perceptíveis e sempre serão citadas, mas por agora vou falar as 4 principais “coisas” que têm me inspirado a escrever mais e pra esse começo de blog vai ser isso: meu namorado, o grupo de desenvolvimento de roteiro do Centro Cultural Marieta, o site/podcast Esqueletos no Armário e a Letrux! Ontem li Contra a Interpretação, da Susan Sontag, foi de uma lindeza inspiradora também.

Hoje, algum dos 8439 stories que vi no Instagram era um post com várias frases como “seu primeiro podcast não vai ser bom”, “seu primeiro discurso não vai ser bom”… A ideia era motivar as pessoas a começar o que estão planejando mesmo que ainda não esteja no estágio idealizado. Não foi o melhor story que eu vi hoje (esse envolvia o possível cancelamento da participação da Anitta no programa da Blogueirinha), mas me mexeu um pouco (acho que foi um pouco). Eu já tinha pensado em começar o blog hoje antes de ver a imagem, que pode ter ajudado ou não, mas que mostra que um clichê no momento certo funciona muito bem mesmo.